quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Beirando a Estrada

        Quando Spif e Bob Bispo entraram no bar, os cerca de vinte caras que se encontravam espalhados pelas mesas e apoiados no balcão bebendo suas cervejas quentes, viraram-se e encaram os dois como se fossem trucidá-los.
        Bob e Spif já conheciam bem o ritual de quando entravam num lugar desconhecido.
        Durante toda manhã até aquele horário estiveram rodando, passaram por mais de trinta cidades diferentes sem parar em nenhuma delas. Portanto não estavam ali para fazer confusão, queriam apenas comer e beber alguma coisa. Mesmo assim cada um carregava sua pistola, disfarçada por debaixo da jaqueta, por precaução:
        -Ei, tu aí feioso, não vais anotar meu pedido? Falou Bob Bispo para o rapaz que atendia, antes mesmo de sentar à mesa.
        -O que o senhor vai querer?
        -Veja um copo cheio de São João da Barra, só pra abrir o apetite. Aliás, o que vocês tem pra comer?
        -É pra abrir o apetite ou ficar bêbado? Vou querer um bife, mas antes traz a cerveja mais gelada que tiver aí no freezer! Disse Spif.
        -Serve Antártica?
        -É a mais gelada?
        -Não, a mais gelada é a Brahma.
        -Então me dá uma Brahma, porra!
        O pessoal do bar tornou a olhar. Alguns balançaram a cabeça desaprovando, outros cuspiram no chão e mostraram os dentes, exatamente como cães na tentativa de intimidar. Não gostavam da presença de intrusos por ali.
        -Bob,escuta só: o pessoal daquela mesa está encarando desde que a gente passou por aquela porta, provavelmente vão querer confusão, deixa eu pagar essa bebida e vamos dar o fora daqui!
        -Lamento, meu chapa, mas estou com muita fome. Ô, Feioso! Me serve outro copo desses e frita uma lingüiça pra mim no capricho, com bastante cebola.
        -Porra, cara, não faz nenhuma merda por favor.
        -Fica frio...
        Da última vez que Bob Bispo dissera aquelas palavras, três dias antes, eles tiveram que atirar numa multidão que corria atrás deles com pedaços de pau e barras de ferro.
        Spif tomou outro gole da cerveja, tentando concentrar-se na televisão em cima do balcão, quando ouviu o barulho de um murro desferido na mesa, e logo em seguida um copo se espatifando no chão:
        -Porra, feioso! Qual é a tua? Faz mais de cinco minutos que eu pedi outra dose de São João e ainda não vi essa porra! Fumou maconha e esqueceu do meu pedido, por acaso?
        -Presta atenção, malandro, acho bom vocês irem embora porque não são bem-vindos aqui e...
        Quem falou isso foi um dos caras que estivera o tempo todo nos encarando, junto com outro panaca fortinho que levantara e colocara a mão no ombro de Bop Bispo, com a clara intenção de começar uma briga:
        -Como é que é?
        Bob torceu o braço do cara nas costas até ouvir um estalo; com a mão direita segurou firme no encosto da própria cadeira, descrevendo um arco perfeito no ar e espatifando-a nos cornos do outro imbecil, enquanto largava o fortinho no chão gemendo com o braço quebrado.
        Todo mundo das outras mesas, mais ou menos aguardando que algo assim acontecesse, levantou quase ao mesmo tempo, a maioria com garrafas ou tacos de bilhar nas mãos.
        Bispo sacou a .40 e ameaçou:
        -Seus filhosdaputa! Ninguém se mexe se não quiser ganhar um buraco no meio da testa!
        -E podem largar o caralho dessas garrafas!
        Spif empunhava sua 9mm e apontava para um babaca que tentava se aproximar com uma faca na direção deles:
        -Te afasta, porra! A gente só quer ir embora e ninguém se machuca!
        -Vais sair do nosso caminho ou queres uma bala no meio da fuça antes?
                                                                     ...
        Depois de quase uma hora calados, quilômetros de distância do incidente, Bob tentou dar uma descontraída:
        -Você viu só a cara daqueles otários? Ha ha ha ha ha ha ha!
        Spif não aguentou:
        -Já chega! Eu prometo pra você, Bob Bispo, nesta porra deste carro às três da tarde dirigindo sem nada no estômago e tendo que aguentar esse teu bafo de birita: de agora em diante, em qualquer situação, quem escolhe onde e quando paramos, sou eu! Ouviu bem?
        -Ei chapa! Por mim não tem galho, sem problemas! Pode ficar frio!
        -Foi mal, cara, deve ser esse calor. Vamos parar noutro lugar e sem confusão dessa vez, porque estou morrendo de fome...
        E meia hora depois num restaurante de beira de estrada, Bob abria a cabeça de outro cara com uma cadeirada novamente, desta vez por causa de uma dose de uísque falsficado,  tendo Spif que sacar a 9mm da cintura e acertar no peito, sem querer e por puro reflexo, dum mané que fez um movimento brusco sem avisar.

Um comentário:

  1. Me lembrei, aqui, das minhas viagens pelos bolsilivros de "farwest", nos bons temos de adolescente... Muito legal! um abraço.

    ResponderExcluir