Hermibaldo chegou do trabalho cinco da matina, e queria aproveitar o domingo de folga para descansar um pouco antes de voltar pro batente na segunda.
O que Hermibaldo não sabia era que o corno do seu vizinho tinha tomado outro chifre, e para curar a dor-de-cotovelo resolveu ligar uma caixinha de som vagabunda de merda, mas que fazia um barulho desgraçado, e como todo condenado que mora no subúrbio, resolveu colocar no volume máximo um som brega do inferno.
O pobre trabalhador, o que é uma redundância, já puto de ter que labutar até as primeiras horas da manhã sem ganhar adicional ou hora-extra, aliás: sem nem receber salário! (todo patrão faz tudo para não pagar o trabalhador a quem explora, e usa as desculpas mais estapafúrdias para isso), acordou puto da vida e foi tentar falar com o vizinho.
Trepou no muro e viu a porra da caixa de som e a piscina de plástico que uma gorda estava enchendo com uma mangueira, mas que pelo ritmo só ia encher no dia seguinte:
-Ô meu amor, faz favor? São oito horas, estava até agora no trampo, estou morrendo de sono e quero descansar um pouquinho, cê não pode baixar essa música maravilhosa pelo menos até o meio-dia que eu ficava muito agradecido? Aí depois você pode escutar esse som divino no volume e até a hora que você quiser?
A gorda, que na verdade também não gostava daquelas bostas tão altas, ainda mais àquela hora, mas sentindo-se ultrajada (?) pelo fato de Hermibaldo ter tido a petulância (?) de pedir com toda a educação para baixar um pouquinho aquele som antes de ter um colapso cardíaco, resolveu tirar barato:
-E quem és tu? Olha, quem colocou a caixa aí foi meu irmão, se quiseres tu falas com ele!
-Mas então me chama ele por favor!
-Gordo Alfredo!
E lá vinha, no passo do elefantinho, a criatura amanhecida e morta de bêbada:
-Que tá pegando, mana?
-Esse rapazinho aí quer que tu baixe nossa música!
-Vou baixar merda nenhuma!
-Ah é?
Hermibaldo não aguentou. Pulou pro outro quintal, quebrou a garrafa de cerveja que o Elefantinho estava bebendo e apontou pra cara dele o gargalo com uma vontade doida de varar o pescoço do imbecil com aquilo:
-Seu filhadeumaputademerdadacasadocaralhovaistomarnocú! Estás pensando o quê desgraçado! Olha a hora, meu! Baixa logo esse caralho antes que eu enfie essa pôrra na tua garganta!
-Mas é que eu tava...
-Estou te perguntando alguma coisa? Bora logo!
E Hermibaldo, que era realmente um rapazinho franzino, estava nessa hora com tanto sangue nos olhos que se a gorda ou o irmão dela falassem mais alguma coisa ele dava cabo dos dois.
-Desculpa, meu caro vizinho! Já estou abaixando, não precisa ficar assim! Eu prometo que nunca mais ponho esse barulhão tão cedo, ainda mais em dia de domingo!
Hermibaldo atirou violentamente o gargalo, que foi se espatifar na parede atrás dos dois. A Gorda e o Elefantinho ficaram com uma cara de cú e não disseram mais uma palavra quando ele pulou o muro de volta para o seu quintal:
-Pois acho bom mesmo...
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