quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Sem Comunicação

       
O Birola passou mal e foi vomitar no banheiro, o Léo ficou puto de ter que limpar a sujeira depois:
        -Porra, Birola! Na pia não!
        -Foi mal, cara... Bleaaaarrrrgghh!!!
        Quando tem muita birita na jogada dá nisso, mas nem sempre é por causa de quantidade. Só de misturar destilado com fermentado, cerveja e cachaça por exemplo, forma-se uma bomba no estômago, que em poucos minutos chega ao cérebro.
        Só quem estava quieto era o Gualberto, tinha brigado com a namorada e bebia sentado no sofá, meio pra baixo. Foi o único que achou bom o cano que a gente levou da Marcinha e da Roberta. Deprimido, tomando a mesma cerveja a quase uma hora, me viu ali parado e me chamou para perto dele:
        -Sabe o que é, cara? Senta aí e bora levar uma conversa séria...
        Putz! Esse papo de conversa séria é foda. Agora o Gualberto ia me alugar enquanto o Birola vomitava as tripas e o Léo dava um esporro porque ia ter que desinfetar aquela porra toda.
        -Espera um instante, então, que eu vou buscar mais uma latinha pra ti!
        -Não precisa, essa ainda está cheia.
        -Mas deve estar quente!
        -Não estou muito a fim de beber hoje.
        -Tem certeza? Porque eu lembrei que preciso de gelo.
        -Vais botar gelo na cachaça? Tá certo, já entendi, pode ir...
        -Foi mal cara, vocês terminaram, mas eu conheço a Jú também então não quero ficar sabendo desses papos.
        -O quê? Não, não, não, não, não. Eu ia falar outra coisa, na verdade não é sobre a Juliana, estou preocupado com outra coisa, escuta só:
        E naquele dia eu aprendi uma lição. O que ele me contou realmente não era sobre a ex-namorada, nem sobre mulher ou cara algum. Parecia que ele falava de filosofia, mas não como se realmente tivesse lido algum filósofo, e sim como quem por inclinação natural tivesse percorrido o caminho até onde se encontrava, motivo de sua agonia e de sua paixão.
        Espantado, eu apenas perguntava uma ou outra coisa a respeito de um detalhe em seu raciocínio. Sua angústia era expressa de uma maneira tão viva que senti tristeza por ele.
        Quando terminou de falar, vi que apesar toda essa aflição de alma ele estava mais próximo de uma resposta do que qualquer um poderia imaginar e isso o assustava. Como pode haver em nossos dias quem se preocupe a esse ponto com o sentido da própria existência ao invés de apenas deixar acontecer?

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