- Ah! Mas por quê isso, me responda!?
- O que fizemos nós para merecer tal desgraça?
- Esperem! Acho que nossas preces foram ouvidas, olhem aquilo ali!
O mais novo deles apontava na direção do que parecia ser um oásis, com algumas palmeiras em volta da água fresca, que parecia brotar como por milagre no meio do nada. Sem perda de tempo, correram até aquela fonte preciosíssima do líquido vivificante, mas logo após o terceiro ou quarto gole, perceberam que aquilo não passava de uma miragem, e que estavam bebendo areia:
- Gasp! Gasp! Argh! Seu energúmeno, como podes dizer que isto aqui é água, se já provei várias vezes e vejo que no copo só tem areia! Estúpido!
Disse isso e deu-lhe um tapa no rosto, atirando-o ao chão. O terceiro tinha permanecido indiferente até aquele momento, mas resolveu intervir para que não houvesse mais agressões:
- Ramsés! Mustafá! Chega! Eu sou o mais velho de nós, e em situações como essa eu devo automaticamente assumir o comando, de acordo com o código de conduta da nossa profissão. Então eu digo que parem com esta briga imediatamente! Se vamos morrer em breve no meio do deserto, que pelo menos seja em paz!
Assim falou Zeroastro, tendo como efeito que os dois fizeram as pazes e se abraçaram. Era uma loucura brigar ali, enquanto a morte espreitava, e precisavam um do outro mais do que seriam capazes de um dia imaginar que talvez precisassem.
Mal tornaram à caminhada, não chegaram a andar nem dez metros, e novamente Ramsés chamava a atenção, dessa vez para um objeto que despontava brilhando refletindo a luz do sol, como se tivesse sido posto por alguém naquele exato momento sobre a areia. Era uma Lâmpada Mágica, e assim que a teve em mãos, Zeroastro esfregou-a. Então do bico começou a sair uma fumacinha, que foi ganhando forma até se transformar num Gênio Bom:
- Como você esfregou a lâmpada, irei atender agora a três desejos seus e depois irei sumir junto com minha Lâmpada. Então, o que vai ser?
Como chefe legítimo pela lei de conduta dos beduínos do deserto, ele não ia deixar seus subordinados e amigos para trás, então concedeu-lhes dois dos desejos a que tinha direito. Depois pediu para dali em diante curtir uma vida de milionário, cercado de belas mulheres e morando de frente para o mar, no que foi prontamente atendido pelo Gênio, que mandou-o para o Rio de Janeiro e fez com que ganhasse na mega-sena.
Mustafá foi mais modesto: queria morar numa ilha cercada de águas turquesa, em que as pessoas vivessem numa comunidade igualitária em que todos fossem donos de tudo e não houvesse propriedade privada, mas onde ele que fosse o chefe e pudesse mandar em todos os outros. O Gênio pensou um pouco, e decidiu enviá-lo para Cuba, onde ele acabou sendo o próximo na linha de sucessão dos Irmãos Castro.
Faltava apenas Ramsés, mas ele não sabia o que pedir. Veio-lhe uma sensação estranha, que se falasse português entenderia ser saudade; parado ali no meio de toda aquela areia e sob aquele sol esturricante, com o Gênio impaciente à sua frente e que não cansava de olhar as horas no relógio de pulso. Naquele momento, tudo aquilo de que ele mais sentia falta era da presença de seus amigos, Zeroastro e Mustafá, que estiveram ali junto dele havia apenas alguns instantes.
Aconteceu talvez pelo calor. Ou pela solidão daquela amplitude vazia, onde nada havia em que pudesse pousar os olhos para se consolar, apenas a figura do Gênio, urgente em sair daquele inferno e voltar para o ar-condicionado. Ramsés fitou então o céu, e murmurou:
- Diabo de dúvida que não existia minutos atrás! Quem dera eu pudesse me encontrar com meus dois amigos mais uma vez aqui, para poder consultar-me com eles, que sempre tiveram um bom conselho para me dar...
Foi então que ouviu um longo suspiro de alívio, e logo em seguida:
- louvado seja Alá! Será feito imediatamente, meu amo, seu desejo é uma ordem! Pronto, aí está! Agora adeus para sempre!
Após o quê, sumiu em meio a uma nuvem de fumaça, como se nunca tivera existido.
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