sábado, 24 de setembro de 2011

Isso É Tudo. E uma Maravilha.

       
     -Ainda posso escutar...
Fiquei emocionado quando vi que ele ainda estava vivo, e podia falar. Era muito sangue, eu não me importva de sujar os braços e o rosto, porque só mais tarde eu percebi que na hora eu chorava muito, e aquele momento me parecia insuportável, que ser humano algum poderia viver depois de passar por uma dor tão grande, de ver o próprio pai morrendo:
-Olha pra mim por favor, não fecha os olhos, não fecha o olho por favor, por favor!
-Estou te vendo, meu filho...
Os caras que atiraram nele já tinham dobrado a esquina. Um senhor que também estava utilizando o caixa eletrônico ficou parado, me olhando de boca aberta, com o cartão do banco numa mão e uma lata de cerveja escrota na outra:
-Pôrra, tu não tá vendo isso aqui! Liga do teu celular, pelamordeDeus!
-Pra polícia?
-Pruma ambulância, por favor! Não deixa meu pai morrer, liga logo, ele não vai aguentar! Pai aguenta, por favor...
Eu sei que a vida é curta e um dia a gente vai acabar. Que essa passagem é um aprendizado, e por mais que a gente ame as pessoas, sabe que um dia elas ou você não estarão mais aqui. Então você torce pra que o próximo seja você, porque a dor de perder alguém que se ama é tão grande que eu não tenho como dizer o que sinto. Eu sofro muito por causa disso, e nunca vou me esquecer que antes de morrer, esteve meu pai em meus braços, se esvaindo em sangue depois de ser alvejado por dois filhos-da-puta de moto que tentaram assaltar ele no caixa eletrônico.
Da gente toda que conheci na vida, era a pior pessoa em quem você pudesse se espelhar, faça o que eu digo não o que faço. Mas era o melhor cara do mundo, personalidade mais cativante que já vi na terra,  que de alguma forma nunca ficava triste ou sempre escondia seus momentos de tristeza, pois sempre estava alegre ou puto da vida, nunca deprimido.
Que suas forças ainda por um bom tempo fossem diminindo, mas que ele permanecesse entre nós. Pelo favor que fez o Senhor, em dar a ele o que ele pediu, que assim certamente para ele tenha sido melhor. Pelos olhos que faiscavam e soltavam estrelas, enquanto me via pela última vez, e já não lhe era possível mais dizer nada.
Embora os olhos estivessem abertos, tenho certeza de que nada mais enxergava. Tinha recém completado naquele mês setenta anos, e talvez ainda pudesse viver mais setenta, e eu do fundo do meu coração acredito que sim.
Hoje sei que Deus escreve certo por linhas tortas, mas nunca vou compreender o por quê de naquela tarde ter morrido meu pai no meu lugar, na boca de um caixa, levando um monte de tiros de pistola de dois vagabundos.
Sabendo nesse instante que eu nunca mais vou vê-lo outra vez, me dá uma dor tremenda. E me dói, e me dói, e me dói e é insuportável, e eu te amo meu pai.

2 comentários:

  1. A morte é algo pelo qual sabemos que iremos passar mas como dói quando chega.

    O sentimento é único e mesmo que o tempo passe as vezes experimentamos aquela sensação como se fosse um reprise.

    O que eu faço nestes momentos é imaginar que a pessoa perdida está em um lugar melhor, penso no quanto a mesma me fez feliz enquanto vivia e isto faz me até sorrir...Assim é a vida não é mesmo?

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  2. Olá Augusto

    Talvez queira dar uma espiadela no meu blog, gosto de escrever coisas da vida cotidiana em forma de pequeninos contos.

    Sua visita e seu comentário será muito bem vindo.

    Um abraço e tuuudo de bom

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