As coisas continuavam acontecendo como sempre aconteciam, aparentemente sem motivo ou sem nenhuma razão a conectar fatos isolados; onde nada está ligado e o acaso e a imprevisibilidade são a mola por trás de atitudes tidas como resultado do cálculo humano, sempre que as coisas acontecem conforme o planejado.
Mas quando as coisas fogem ao controle e acabam causando problemas, a gente costuma ir atrás do culpado:
-E daí? Não estás dizendo nada com isso! Como assim não pôde me ligar?
-Quem dera fosse tão fácil. Bastaria pegar o telefone e dizer a mesma coisa que eu digo sempre e que você já deve estar cansada de ouvir.
-Não! Por que a gente não conversa um pouco de verdade? Queria saber o que se passa contigo... Eu poderia transar com qualquer um, achas que é só pra isso que te procuro?
-Pode ser, mas nada é tão simples. Senão bastava ignorar um problema para tê-lo resolvido como por mágica. Você não precisa disso, tem um futuro pela frente...
-E tu achas que todos não temos problemas? E a minha vontade não conta nada pra ti? Que diabos de vida é essa que tu levas mais parecendo uma novela mexicana?
Enquanto existisse a impossibilidade de relacionar-se com quem fosse, pois mesmo quando apenas a carne falava, era impossível fingir não escutar baixinho o lamento de um sentimento, não conseguiria verdadeiramente libertar-se.
Primeiro você conhece alguém, depois esse alguém conhece você, então ambos viram objeto da análise do amor um do outro, para ao final ser dada à luz uma tese intitulada: "o que fazer para mudar seu parceiro", que você conhece de cor:
-Então o teu sonho é viver isolado do mundo, por acaso? Querias virar uma espécie de ermitão e se relacionar com o mínimo de gente possível? Não preciso te falar o quanto isso é ridículo, além de ser impossível nos dias de hoje, onde o legal é conhecer mais e mais gente, o que te dá uma chance infinitamente maior de encontrar pessoas legais!!!
É um ponto de vista. Mas sabemos que o número de desocupados inúteis que você realmente encontra por aí é bem superior ao de alguém que preste, chega a entristecer. Ou para usar um termo corrente nos negócios a que tudo parece reduzido: "o ônus é maior que o bônus" ou "deve-se analisar o custo-benefício", o que significa que no fim das contas não vale a pena.
...
Depois que se despediram ele ficou pensando o quanto foi fácil gostar dela, do seu cheiro, do seu sorriso, e amaldiçoou-se por aquela decepção de si mesmo.
Ela caminhou até um banco e parecia meio triste, meio pensativa, talvez fazendo um inventário mental de como estava sua vida até o presente momento.
Foi então que parou ao seu lado um rapaz da mesma idade e disse-lhe alguma coisa de que ambos riram, depois o rapaz sentou e começaram a conversar. Passaram-se uns minutos e a conversa foi ficando animada: ela sempre a mexer nos cabelos e exibindo o belo sorriso; ele a sorrir também e vez ou outra tentando segurar-lhe a mão entre as suas.
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