"His revolution, he used to say, will be a sexual one."
Como foi para ele escolher o destino que obviamente o mataria? Queria mesmo servir de alvo móvel para a artilharia manjada dos descontentes?
-Ele disse "Foda-se!".
-Quê?
-Eu falei que...
-Pôrra, isso eu escutei! Quero saber o que você está fazendo aqui! Eu te pago pra fazer o que eu mando, então volta pra lá e tenta convencer aquele bosta, seu merdinha!
-Sim, mestre...
-Sarcasmo! É por isso que eu gosto desse idiota. Vocês aí estão olhando o quê, não têm nada pra fazer? Mexam-se, vamos!
...
Ele estava sentado na areia com uma garrafa de vodka entre os joelhos, a cabeça apoiada no ombro, um cigarro que tinha queimado até o filtro na mão direita. Ressonava tranquilamente como se fosse ficar por ali pelas próximas duas horas, ao invés de se apresentar com a banda:
-Max, cê tá dormindo?
-Não enche, Bro. Tens fogo aí?
Tomou um gole de álcool, acendeu um cigarro todo amassado que tirou do bolso e deu uma baforada. Um cheiro semelhante ao de incenso tomou conta da tenda de lona que servia como camarim:
-Escuta só o som lá fora, Max! Daqui a quinze minutos a gente vai ter que encarar mais essa meu, acho bom parar um pouco de beber...
Falou aquilo da boca para fora por dois motivos: primeiro que assim ele ficava puto e bebia ainda mais, e foi o que fez. Segundo porque infelizmente sabia que ele se apresentava melhor quando estava bêbado. Só que de uns tempos pra cá vinha esquecendo as letras no meio das canções, estava se destruindo, e era pura sorte ninguém ainda haver percebido. Ou fingiam não perceber:
-Cara, no último show a gente não conseguiu mandar as três últimas, você quase desmaiou no palco, isso não pode continuar assim!
Ele olhou bem pro cara que ele aprendera a considerar como a um amigo depois de passarem por tanta coisa juntos. Levantou-se e saiu fumando, levando a vodka consigo:
-Tens razão, Bro! Eu não posso continuar com isso...
-Peraí, Max! Aonde você vai?
Bebeu até o fim, atirou a garrafa para longe e foi correndo em direção às ondas que quebravam com um marulho sinistro, apenas o brilho do cigarro aceso em sua boca, que depois desapareceu sem deixar vestígios na escuridão.
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