domingo, 2 de outubro de 2011

Eles Não Sabem O Que Fazem

-Como se pode fazer o que se quer com todos esses problemas?
Disse isso para si mesmo em voz alta. Estivera nos últimos tempos pensando no rumo que as coisas haviam tomado. Dez anos passaram, mas parecia que tudo o que acontecera tinha sido exatamente no dia anterior, como se após todo esse tempo ele estivesse apenas dormindo e só agora ao olhar em volta se desse conta e começasse  a acordar.
Tinha em cima da cômoda uma carteira de cigarros amassada, pegou-a e viu que dentro dela os cigarros já tinham mofado. Ainda guardava cigarros em casa, embora tivesse parado de fumar, mas naquele momento a vontade retornara. Talvez fosse assim pelo resto de sua vida, a cada vez que o nervosismo viesse, junto retornaria aquela vontade de fumar, que na verdade já não era tão grande assim que o fizesse tragar um cigarro mofado.
Pegou a garrafa de vodka ao lado da cama e tomou um grande gole, enchendo bem a boca antes de botar o líquido para dentro. Odiava vodka, o gosto dava vontade de vomitar, parecia que estava bebendo perfume barato, mas era o tipo de álcool que se conservava por mais tempo, outro tipo de bebida ficava simplesmente intragável de um dia pro outro, ainda mais para quem tinha, primeiro por preguiça e depois por hábito, o costume de beber direto na boca da garrafa.
-Cara, ainda são três da tarde e já estás tomando esta porcaria?
O amigo estava de pé ao lado dele, e agora olhava como se estivesse com pena, mas logo em seguida mudou de expressão e deu uma risada, depois continuou:
-Desculpa cara, mas se eu bebesse como tu, acho que não tinha mais fígado!
Ele não se importou com o comentário imbecil, aliás parecia agora que tudo o que fizera durante todo aquele tempo fora cercar-se de imbecis. Pensou em tomar mais um gole, mas o primeiro ainda não havia sentado direito. E exatamente nesse instante teve um pensamento tão forte que afastou todos os outros, e fez com que pegasse um dos cigarros mofados e pusesse no canto da boca, fazendo um gesto para que o outro lhe passasse os fósforos de cima da mesa:
-Talvez eu não tenha mais fígado mesmo. Nem coração, cérebro ou pulmões. Talvez meu corpo esteja vazio e por dentro desta casca só exista o que existia cem anos atrás e que vai existir daqui a um milhão! Ou seja, nada...

Um comentário:

  1. Talvez até saibam, mas o ignorem exercitando, em seu ver, uma rebeldia imbecil que os mata dia-apos-dia... alcool e cigarro! Até quando os homens se deixaram dominar por prazeres fúteis cujo fim é sofrimento e miséria?

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