terça-feira, 18 de outubro de 2011

O Mundo É Um Moinho

   
       Nerwaldo estava na casa de sua melhor amiga. Ela deitada na cama apenas de shortinho e blusa sem sutiã, apontando-lhe os bicos dos seios duros incriminadoramente em direção à face, após revelar estórias estarrecedoras:
-Como assim, que papo é esse de pingüins e suçuaranas e formigas que estás me dizendo?
-É verdade, Nerwaldo! Essa tua mania de não aceitares as coisas como são vai fazer de ti um dia ou um babaca meloso, um merda solitário, ou quem sabe um idiota alienado!
Depois dessa frase, Nerwaldo olhou firme nos olhos da amiga, segurou a respiração como se fosse dizer alguma coisa mas desistiu, sentando-se na cama para avaliar melhor as verdades que acabara de ouvir.
Se fossem ditas pela boca de outra pessoa, nem ao menos se daria ao trabalho de escutar, mas a presença dela modificava sua atitude.
Não havia mais espaço para sarcasmos ou ironias tolas, apenas conheciam que se gostavam, e por se gostarem de uma forma diferente faziam o possível pelo outro, ainda que tivessem de dizer palavras duras, que incomodam porém são necessárias.
Nunca escondiam seus sentimentos um do outro, faziam força para serem sinceros ou então aquela relação não faria sentido, e enquanto fizesse sentido era saudável para ambos, até que ela explodiu num desabafo.
O sofrimento ou felicidade de um acabava se tornando o de ambos,  ela dissera com todas as letras, ele achou por bem calar um instante e considerar com os próprios pensamentos o que realmente achava disso tudo.
A desilusão de que por mais triste que seja, a gente deve aceitar a natureza humana do jeito que ela é sem tentar mudá-la, a não ser que se prefira mascarar a realidade. O pior de tudo é que a rotina pintava essa realidade momentênea onde vivia como se existisse  desde o começo dos tempos.
Não fazia sentido perguntar se algo podia ser diferente, porque agora tudo podia ser diferente, da mesma forma que continuaria sempre a mesma coisa.
As contingências da vida te cutucando por todos os lados, e no final a sensação reconfortante de que não podia ser de outro jeito, e realmente não poderia.
...
Havia no quarto uma vitrola ao lado da cama, herança do pai da moça. Nerwaldo escolheu então um disco na prateleira ao acaso e pôs pra tocar, enquanto ela não tirava os olhos dele, esperando ouvir o que ele teria a lhe dizer, no instante em que a música imersa nos sulcos do vinil era descoberta pela agulha, transmitida até as caixas de som, e soava como um lamento:

"Ainda é cedo amor, mal começaste a conhecer a vida,
já anuncias a hora da partida, sem saber mesmo que rumo irás tomar;
Preste atenção querida, embora eu saiba que estás resolvida,
em cada esquina cai um pouco a tua vida,
em pouco tempo não serás mais o que és;
Ouça-me bem amor, preste atenção, o mundo é um moinho, vai  triturar teus sonhos tão mesquinhos, vai reduzir as ilusões a pó;
Preste atenção querida, de cada amor tu herdarás só o cinismo,
quando notares estás à beira do abismo;
Abismo que cavastes com teus pés."

Nenhum comentário:

Postar um comentário