Estava subindo para o terraço de um edifício, daqueles antigos, sujos do tempo e da fuligem deste ar poluído da cidade que envenena todos nós. Estou indo lá me encontrar com alguém que não sei bem quem é, embora de alguma forma consiga sentir que se trata de alguém que gosto muito, e que devo subir as escadas depressa antes de alguma merda acontecer.
Chegando lá a primeira pessoa que vejo é minha namorada; ela parecia bem, embora sua expressão demonstrasse um certo nervosismo, como se ela estivesse fazendo um esforço para se controlar. Olhei em volta e vi uma escada de madeira pesada, dessas de armar , praticamente encostada no parapeito, inclinando-se perigosamente na borda do prédio, sobre um abismo de vinte andares. E em cima dela, como que embriagado, balançava-se um macaco enorme, do tamanho de uma pessoa, segurando um rojão aceso numa das mão e masturbando-se com a outra.
Três cachorros subiam a escada atrás de mim, eram enormes, pretos, e vinham com a boca espumando e latindo e tinham os nomes escritos nas coleiras de prata brilhante, Alef, Norco e Demo. Fechei a porta que não tinha maçaneta atrás de mim, enquanto eles latiam e arranhavam e faziam o maior barulho, mas não conseguiam me pegar, pois era uma porta corta-fogo, portanto bem resistente, então arrastei umas caixas e pus na frente para que não passassem dali.
Quando olhei em volta novamente, minha namorada havia sumido. O macaco apontava o rojão para um prédio em frente, todo de vidro, onde várias pessoas trabalhavam e pareciam muito ocupadas, já que não viam que estavam prestes a ser explodidas por um gorila tarado.
Gritei para que o bicho não fizesse nada daquilo, mas ele não apenas me ignorou completamente como também acendeu um charuto depois de gozar. O prédio em frente foi atingido pelo foguete, mas ao invés de desmoronar como eu havia imaginado, apenas quebrou algumas vidraças, que logo se transformaram em puro aço translúcido pregado com rebites.
Consegui tirar o macaco de cima da escada antes que ele caísse, dei um tapa em sua mão para que largasse o charuto, encarei sua cara cínica e irônica estranhamente familiar, sorrindo pra mim e piscando um dos olhinhos, o bicho mais safado do mundo ali na minha frente, e a única coisa que pude dizer foi:
-Seu feladaputa, estás ficando doido!?! É porra que tens na cabeça também???
Ele deu uma risadinha, soltou a fumaça do trago que tinha segurado bem na minha cara, e não me surpreendeu quando disse no maior tom de galhofa e desrespeito:
-Era só brincadeirinha, hi hi hi hi hi...
Joguei o desgraçado com escada e tudo lá de cima, torcendo para que os cachorros estivessem lá embaixo e roessem seu cadáver. E estavam.
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