O sol ilumina o desenho na parede: uma espécie de cenário amazônico, desses que é mais comum em bar, com uns bichos estranhos misturados, uma onça do lado de uma garça em cima de uma pedra que olhando melhor é um jabuti, eu acho.
O mais estranho é que tem no canto esquerdo superior uma coruja de um palmo, cinzenta, com grandes olhos amarelos com furinhos vermelhos no centro. Essa coruja vigia de certa forma meus movimentos, neste cubículo, há quase três anos.
Às vezes me incomodo de ver aquele bicho agourento ali. Mais de uma vez tive a certeza de vê-la mudar de lugar. O único pedido da senhoria era que nâo puséssemos tinta sobre o desenho, que ocupava todo o lado esquerdo da parede. Quem o fizera havia morrido tragicamente, quando morava ali, se jogando pela única janela, e se espatifou no asfalto dez andares abaixo, completamente nú.
Logo que mudei, pensei em cobrir com cartazes ou coisa parecida aquela pintura, mas por preguiça acabei me acostumando e deixei ficar do jeito que estava. Quando apoiva os cotovelos na janela e olhava pra baixo, sempre pensava na estória do pintor suicida, mas de alguma forma é difícil desviar o olhar, as pessoas ficam acenado lá embaixo, querendo me dizer alguma coisa, e eu tenho que me debruçar bem pra poder ouvir.
O sol nessa época costuma se pôr rapidamente, minha vista fica um tanto quanto embaralhada, dou um pulo e me sento na borda da janela como sempre faço, e fico olhando o desenho na parede, os bichos todos, mas por um momento eu pude ver perfeitamente quando um deles levantou a asa negra.
Podia ser o efeito que a minha sombra provocava sobre o desenho, mas fiquei movimentando as mãos, tentando agarrar aquela coruja, a cor agora completamente vermelha escapando por certos furinhos, preenchendo aqueles olhos, derramando-se no chão, o sol cada vez mais rápido:
-Pára cara! O que tu vais fazer!
Eu não sei quem é esse camarada que entra arrombando a porta, é alguém que veio falar comigo, com certeza, pois vejo ele se afastando muito rápido da janela, gritando meu nome por vários segundos, com os olhos muito vermelhos, e eu tenho certeza que por trás desse grito tinha muita coisa que ele queria me dizer.
Nunca pensei e é verdade: estes animais dessas fotos de paisagem sempre não tem nada a ver um com o outro o.o
ResponderExcluirQuero continuação!!!! >< shuauhsa
bju