Por um momento eu tive a sensação de que a verdade estava próxima de ser descoberta, e era possível dizer se essa impressão havia aparecido ou aconteceria várias vezes, só que não dava para saber o que era, por mais que tentasse buscar as palavras na cabeça.
Perceber a enormidade do que existe entre a vida e a morte e o eterno, descobrir que é impossível. Os homens vão sempre se ocupar das coisas práticas da vida porque são práticas, não porque é o que mais importa.
Tento então estabelecer prioridades, seguir um rumo, fazer o que se espera, agora tudo é tão simples, simples como fazer nada, como são as gotas que caem do céu. Simples como é a morte para os mortos.
Ignoro o processo, e quem o conhece dificilmente conseguiria explicá-lo. E se explicassem, talvez eu não estivesse pronto para aprender. E se aprendesse, bastaria uma pequena distração para que enfim esquecesse tudo e voltasse a viver na ignorância.
A ignorância é uma bênção.
Fazendo a mesma coisa que outros fizeram, você descobre que é possível entender como fizeram pela experiência que fica impressa na memória, mais ou menos como erguer uma parede ou montar uma equação. O modo de observar pela janela durante a chuva o céu cinzento; as árvores, os quintais vizinhos, os muros das outras casas, roupas esquecidas num varal, um passarinho que voa perdido, o vento arrastando as folhas, o estrondo do raio que dessa vez caiu bem próximo, é uma experiência que não se pode dividir, a menos que consigas treinar o olhar.
Em outros lugares, em outros tempos, pessoas estiveram aqui e observaram em silêncio a chuva. Das milhões de coisas que poderiam ter sentido, houve aquelas que sentiram uma pontada de tristeza e melancolia. Destas, poucas puderam descrever o que sentiam, mas alguma delas certamente deve ter visto o que vi: a lua surgindo redonda e brilhante, pela brecha de uma nuvem, quando finalmente parou de chover.
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