segunda-feira, 9 de abril de 2012

Inacreditável Elixir do Tempo



        Tem vezes que a gente está tão cansado, que a única coisa que conseguimos pensar é em abaixar a cabeça e dormir.
        Várias situações do dia aparecem nesta transição entre sono e vigília: pedaços de conversas entrecortadas; pessoas que sumiram há tempos, mas que voltaram à nossa lembrança como se tivessem acabado de estar aqui.
        Um perfume já esquecido, doce como a pessoa que usava-o.
        Um gesto familiar num desconhecido, que nos lembra uma pessoa ausente.
        Pois a vida é feita de momentos fugazes; deveras inútil ao perceber que esqueceremos tudo no instante seguinte.
        Mesmo ao fazer um esforço tentando lembrar do que realmente aconteceu, somos traídos pelo memória e o que temos são lembranças misturadas: rostos transplantados em outros corpos; bocas que se mexem emitindo pensamentos alheios com vozes trocadas; olhos que mudam de formato e de cor a cada piscada.
        Cada traço diluindo-se com outros, até o ponto em que não é mais possível lembrar do que se quer lembrar realmente.
        A memória brinca com a realidade ao traduzí-la segundo um desejo oculto: nossa vontade profunda de que a coisas tivessem tomado outro caminho.
        Mas se a vida fosse de outro jeito, será que ainda estaríamos aqui?
        Seríamos melhores ou piores? Iguais?
        O que se demora a perceber é que cada dia não é um a mais: é um dia a menos.
        A cada segundo, minuto, hora, semana, mês ou ano que passamos sem perceber, é porque temos menos tempo.
        A cada dia então a vida vai encolhendo mais e mais, até que chega o limite.

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