Mar cinzento. As dunas carregadas de areia cegante porque naquele horário batia tanto sol...
-Aaaaaarrrrrrgggghhgshagshahhhhaaaa...
Morreu, ou quase, o homem que deu esse grito primal: queria encontrar qualquer coisa fora do tempo, como a própria morte:
-Temos que voltar!
-Mas ainda quero nadar nesse marzão!
Fingindo que não tinha medo da morte, parecendo não se preocupar, assim comportava-se.
Logo soubemos o quanto estava atemorizado pela expectativa da chegada da inesperada das gentes.
Houve um momento deveras indesejável: eu acompanhando de longe ele nadando, percebi que ali já não dava mais pé; justo quando o cara tinha perdido quase todo fôlego:
-Pôrra, filho! Foda que aqui não dá mais para alcançar o fundo...
-Fica frio, lembra das técnicas.
No caso, existem inúmeras técnicas para permanecer na superfície do mar: boiar; nadar cachorrinho; bater as pernas na vertical e os braços na horizontal; segurar o pulmão cheio de ar durante trinta segundos, expirando e inspirando rapidamente, mas sempre mantendo a respiração presa no mínimo durante trinta segundos que o tronco permanece na superfície;
Além da técnica mais arriscada: hiperventilar-se, depois soltar todo ar dos pulmões de uma vez, imergindo assim rapidamente, até tocar o leito arenoso, tomando o maior impulso possível em direção à margem, mas sempre procurando ir pra frente, guardando um pouco do ar para alcançar a superfície.
Certa ocasião em que estando muito longe da margem, acontece de termos nosso último pensamento tão pouco coerente que respiramos o ar da atmosfera agradecendo pela última vez.
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