quarta-feira, 4 de abril de 2012

Para Quem Sobreviveu




        Morava num décimo andar alugado, quartosalacozinha e um banheiro minúsculo.
        A porta vivia aberta para entrar o ventinho que vinha pelo corredor, pois três da tarde era um calorão: o sol entrava pela únca janela, arrombando as retinas.
        A solução era vê-lo refletido no rio.
        Então tirou um cigarro do maço e procurou os fósforos.
        Encostou-se no parapeito da janela e fitou a curva que o rio fazia.
        As  ilhas e a mata aparentemente virgem.
        Os urubus sobrevoando, assemelhando-se a pássaros, que pareciam tornar aquele tempo mais leve, como se apesar de tudo ainda valesse a pena viver:
        -Mas quem quer ser feliz?
        Riscou o palito, deu dois tragos e ficou pensando:
        "Preciso falar com meu pai, ele está precisando de mim! Por causa dele e desse negócio que está acontecendo , a gente tem que se encontrar, mas é foda, cadê tempo?"
        Por causa do cigarro.
        Por causa do sol.
        E a pôrra do câncer.
        E eu não posso fazer nada, apenas torcer para que um dos lados vença.
Na verdade, eu aposto que a gente vai vencer, a gente vai conseguir sair dessa!
        Mas se você acha que sou triste, acredite, é porque infelizmente esse é o meu jeito...

Nenhum comentário:

Postar um comentário