Sentou na frente do espaço em branco e começou a escrever.
Amarrou na cabeça a camisa que ela havia usado, dessa forma sentiria melhor aquele perfume delicioso, de quem era capaz de qualquer coisa a mais, como sentir saudades até gelar a espinha, e lamentou-se não ser alguém melhor, ao invés dum completo idiota.
Tentava com raiva mas não conseguia. Esquecer era impossível.
Mal piscava os olhos, sentia o gosto daquela pele macia; quando mordia sua costas e tentava agarrar seus seios, esvaindo-se a cada beijo, até que ela foi-se embora Deus sabe pra onde, quando obviamente o certo era permanecer do seu lado.
A blusa que ela vestia, dobrada em cima da cama, amarrou-a em volta da cabeça, apenas para continuar sentindo na memória o cheiro maravilhoso, pois ela havia ido embora e levava junto consigo o sol, deixando apenas uma mancha dourada na parede e o vermelho daqueles lábios tatuando-lhe o ombro como uma flor arroxeada, deixando-lhe na ponta da língua o sabor de seus lábios perfeitamente desenhados.
Se ela chorou, não podia saber. Dela guardava uma lágrima de saudade, que se recusava a desprender dos olhos secos, como atestado de uma vida destinada ao nada, como podem ser as vidas que voam ao sabor do vento.
E naquele momento derradeiro, quando sua presença havia cessado, ainda sobrava algo deveras demais importante. Era uma poesia em flor, no ápice dos seus vinte anos, começando assim um romance, perdido no meio de um livro de provérbios, escrito num vagabundo Lenço de Papel:
As pálpebras cerram violentamente,
uma contra a outra,
não contém o estupor
das pequenas lágrimas que, persistentemente,
enredam-se pelo rosto, colo, e vão obscuro,
entre uma fálica visão
e uma caverna
tecida à velcro e pele úmida.
Nem que seja apenas em nossa mente.
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