Contos em geral, aproveitando a oportunidade da vida dada por Deus, o que gera enormes dúvidas quanto ao destino de cada um frente essa coisa chamada morte. Como um exercício de estar no mundo e de crescimento espiritual, aprendizado e diversão, contribuindo com a construção de uma pessoa melhor consigo mesma e com os outros.
segunda-feira, 21 de maio de 2012
Casa de Barro
Imaginava ela momentos atrás, embalando-se na rede, segurando minha perna. Disse coisas tão lindas naquela voz doce, sorrindo como se fosse a pessoa mais feliz do mundo.
Ela bem poderia reclamar daquele lugar, que era realmente péssimo para uma dama: quatro paredes manchadas da umidade, sem reboco; em cada uma delas eu havia passado apenas uma demão de cal, mas depois que secou começou a soltar pó feito o cão.
O chão que pisávamos era de terra batida, coberto com cimento cru: faltava comprar duas caixas de tinta Xadrez, amarela ou vermelha, para que não levantasse tanta poeira. Minha roupa que soltava mais pó que figurino de filme antigo de faroeste.
Quando ela chegou, eu tinha recém-tomado banho, aí ela disse:
-Ué, não vais te lavar?
-Mas..
A vida é assim mesmo. Já tinha me lavado com sabão de coco, botado a bermuda mais limpa da cadeira, passado um tempão procurando um desodorante, que por sinal não encontrei, fiz o melhor possível, aí lembrei:
-Espera aí!
Desci pra tomar outro banho, depois passei um limão galego debaixo do braço, respinguei uma essência de baunilha que tinha sobrado dum bolo do dia anterior, tudo pra acabar com aquele cheiro desgraçado que continuava. Culpa minha, que suo pra baralho, nessa fornalha abafada:
Ela disse:
-Pôxa, tem de haver um jeito, joga mais uma água, sei lá! Talvez se chovesse a gente poderia...
Então repentinamente começou a chover: o tempo esfriou, o suor secou, e ela finalmente me abraçou.
Começou a gemer, dizia que tudo era maravilhoso. Eu arrancava pedaços de sua pele, sugava cada poro, arranhava-lhe a coxa com os dentes, lambia seu pescoço, mordia os braços, pernas, joelhos; botava minha língua dentro dela, entrava em êxtase também, sentindo cada vibração daquela carne macia.
Entorpecidos, caímos sem forças: ela descansando sobre meu braço, eu com o braço esticado, mas ambos agradecendo a existência, ambos exaustos.
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