quarta-feira, 23 de maio de 2012

Feira-Livre




        -Vê o peso também desse amarrado de maxixes, faz favor?
        -Dá dezenove e cinquenta, mas eu ponho mais este maço de feijão verde, aí faço pro freguês vinte barão certo.
        -Tá legal, pode botar na sacola. E rápido que estou com um pouco de pressa, ainda vou encontrar uma barraca dessas para almoçar...
        -Pois égua, se o senhor quiser vai lá na barraca da Madame! É aquela uma ali de frente pro rio, do lado da geladeira amarela: vai que eu te garanto que lá vende o melhor açaí com peixe frito da área; e diz que foi o Tinho quem mandou, que aí ela faz caprichado pro senhor!
        -Vou lá sim, valeu a dica.
        -Então olha, leva também essa alface daqui por conta da casa, aí diz pra ela preparar uma saladinha pro senhor, porque lá só vende o açaí com peixe frito e farinha d'água, coisa que a gente é acostumado mas quem vem de fora sente falta de algo mais, tipo uma verdurinha, um feijão-com-arroz...
        Eu estava ali do lado, comprei um cigarro retalho, só pescando a conversa entre o cara alto e branco feito papel, visivelmente incomodado com o calor do sol, e o verdureiro local, que não parava de empurrar coisas para o homem levar: mais um pouco e ele ia acabar comprando a barraca inteira, só para escafeder-se dali e suar em bicas em paz.
        Botei o cigarro apagado no canto da boca e fui chegando:
        -Ô, irmão, deixa que eu carrego essas sacolas pro senhor. Ei, Tinho, larga mão de malandragem e põe aí mais uns tomates junto dessa alface, que eu levo ele na Madame, aproveito e almoço lá também.
        -Mas coooomo, seu égua? Vais como então agora comer lá e pagar tua dívida, se estás sem nem um tostão furado?
        -Posso no momento estar desprevenido, mas convido esse senhor a ter a melhor experiência gastronômica da vida dele, se ele por obséquio fizer o favor de mandar esse rango...
        Eu já estava com a sacola do cara abarrotada de verduras, mais a alface e os tomates que o Tinho mandou por conta seguros na mão esquerda, além do cigarro apagado nos lábios. O cara branco feito cal ficou me encarando uns segundos, talvez confuso pelo excesso de luminosidade, apertando os olhos sem dizer palavra.
       Acendi o cigarro e saí andando.
       Sem outra alternativa, o cara teve de seguir atrás de mim em direção à barraca da Madame, ou então chamava a polícia, ou sabe-se lá o que era que ele tanto queria naquele momento, mas não parava de olhar desesperadamente para os lados, procurando algo que não encontrava.

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