domingo, 6 de maio de 2012

Pedras Portuguesas



      Feita de madeira carcomida, havia uma escada em frente à casa que caía aos pedaços. Devia subí-la para encontrar o Velho.
Batidas na porta.
"Entra", ele disse.
Ruim, péssima situação que não dá para descrever, pior do que a tristeza:
-Como vai? Você consegue entrar e sair dessa casa, meu Velho? Percebe que em breve tudo vai desmoronar?
O que estava acontecendo? Vítima da idade? Depressão? Pois se faltava algo, o que se podia fazer.
      Visivelmente faltava alguma coisa, como, como:
"Adivinha, moleque: estou naquele estágio da vida quando nada funciona sem os nossos por perto..."
Pedi que ele esperasse um pouco mais, mas ele não podia. Porque finalmente havia enlouquecido: vivia no futuro, eu no passado.
Um cara que eu conheci e que me deu tanta coisa.
Mas aquela personalidade não existia mais, visivelmente não era a mesma pessoa.
Minha dúvida era se eu ainda teria tempo e disposição para ajudá-lo.
Só que ele mudou demais.
Inacreditável alguém tão bom que em poucos anos torna-se o inverso do que pregou a vida inteira, fazendo todo mundo sofrer porque virou um extremo filhadaputa.
Mas assim são as coisas.
A gente torna-se exatamente o oposto do que queria ser.
Passam os anos, continuamos cegos, então com sorte a proximidade da morte fazia com que encontrássemos novamente a verdade.
Não que fosse o caso, mas é uma injustiça tão grande ver quem amamos enlouquecendo de uma vez e para sempre.
"Tenha coração."
   Eu lembro de tudo. Penso em você e lembro de tudo.

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