sexta-feira, 4 de maio de 2012

Impedida Liberdade



        "Seja humilde na alegria, moderado na tristeza, comedido na vida."

        Esta é a estória de um grande amigo.
        Ele nasceu na década de oitenta, estudou, trabalhou, fez tudo como o costume manda, mas reclamava demais, não conseguia sofrer quieto. A gente insistia:
       -Brother! Realmente não acredito que aches tua própria vida a merda que dizes que ela é! Tua situação é ótima, tem gente que só se fode, olha em redor...
        -Pôrra! Queres me comparar com a escória? Caralho, eu devia ter nascido milionário!
        Coitado.
        A capacidade de reclamar é inversamente proporcional à motivação para tentar fazer alguma coisa da vida, e diretamente proporcional à capacidade de colecionar desgraças..
        Deus sabe o motivo, mas ele encontrou uma mulher, ou foi ela que o encontrou, mas antes que ele pudesse escapar, ela engravidou.
        Então finalmente entendeu o que todo mundo sempre "teimava em me dizer, eu acreditando que era papo-furado, preso na minha concha, só escutando minha própria voz, reclamando..."
        Era feliz e não sabia.
        E sua esposa, como toda mulher que se preze, estava deixando-o louco. Aí começou a fazer merda atrás de merda, mais do que o habitual, e reclamava, reclamava, deixando os que realmente gostavam dele muito tristes, embora por um motivo qualquer não fossem capazes de desistir assim tão fácil:
        -Quando esse cara vai cair na real, meu Deus?
        Pois finalmente um dia, antes que fosse tarde, ele percebeu o motivo de tudo aquilo que estava acontecendo.
        Deu-se conta que desde sempre havia sido abençoado, pois tinha muitas vitórias mas supervalorizava os fracassos; que maltratava os próximos por pura ignorância; que nunca teria chegado lá se caminhasse sozinho.
        E que se continuasse insistindo em ser um cabeça-dura, as pessoas que o ajudaram de coração aberto achariam tal atitude repulsiva, não exitando em cobrar cada centavo devido na justiça.
        Percebeu que ainda era jovem, e que agindo dessa maneira, insistindo nesse comportamento que até ele sabia estar errado, só alguns teriam pena: mas a maioria sentiria grande prazer em vê-lo se foder, testemunhando do seu desprezo pelos que o amavam ao acercar-se unicamente de bajuladores, pois ao contrário dos ratos que nunca têm para onde ir, os bons já haviam abandonado o barco, e da margem a única coisa que poderiam fazer era lamentar e rezar, enquanto viam-no afundar lentamente junto da escória que tanto odiava.
        Pois estiveram na sua frente durante toda vida, ele achando que encobriam o sol ao invés de propiciarem a sombra aprazível de que sempre necessitou, caminhando a passos largos os gigantes, mas que infelizmente sequer era-lhes permitido olhar para trás.

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