sexta-feira, 8 de março de 2013

A Vida Estranha



        -Eu preciso de você!
        -Eu já não quero mais saber de ti!
        -Sabes que te amo, fica comigo.
        -Credo! Te falei que tenho outro, desencana!
        Olhava aquela cena meio bizarra, mas perfeitamente comum, do casal que tomava a quinta cerveja e mal tinha tocado no tira-gosto.
        O cara era um senhor por volta dos seus quarenta e poucos anos; a moça mal tinha chegado aos vinte; mas tinha um certo jeito de parecer dona de sua vontade e de si mesma.
        Como se tomar aquele porre, fumar, discutir e beijar um homem de meia-idade fosse apenas capricho, sentindo-se maior do que si mesma perante outros babacas.
        Fora as coisas que fazia com a língua.
        Teria saudades dela, foi o a primeira coisa que o cara pensou, assim que ela levantou e foi embora e imaginou que talvez nunca mais encontraria uma mulher igual àquela...
        Daí ouviu um som que o fez dormir e teve um sonho: sonhou como se o mundo fosse feito de um mesmo elemento poderoso, feito um perfume de flores e suas cores, feito fogo índigo, um gosto de nozes, leite e mel.
         E antes de acordar viu por dentro do pescoço o teto, no momento da derrubada de um jambeiro, em que o corpo desperto notava que era possível esquecer-se de tudo, feito um sonho inteiro esquecido, como quem perde um cílio.  

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