sábado, 24 de dezembro de 2011

As Crônicas do Jaspion: A Batalha Final

        Adentrava a Casa de Noca um velho muito seco e enrugado, com o triplo da altura de Jaspion e uma comprida barba branca. O olhar apagado aparentemente inofensivo ocultava a criatura mais pavorosa que já existira, incapaz de caber nos piores pesadelos de um jovem Grado que não fazia idéia de como o maligno Lorde Fumanchu deliciava-se com o cérebro de pessoas inocentes e tolas como ele no café da manhã:
        -Goooooosssshhhhh!!! Não morrrraaaa!!!
        Jaspion se ajoelhou ao lado do amigo que havia caído fulminado no chão depois que um clarão atingira-o repentinamente:
        -Largue-o, seu idiota! Não vê que ele está morto? Entregue o Livro que pouparei sua vida e deixarei você ir embora apenas sem a mão direita!
        -O que você fez?!? Você é louco, Louco! Gosh, acorde por favor, não acredito! Onde está o encanto da Profecia, a magia dita nas Escrituras, onde está? Exdrúxulo Catarral Platinoso, Torpe Engrolar Aparvalhado, Canícula Selvática Causticante, Desídia Falaciosa Escarnecedora...
E Jaspion folheava o Livro Ininterrupto enquanto ia gritando com toda a força dos pulmões as palavras da forma como elas apareciam na sua frente, entrecortadas umas nas outras, numa sequência de sons apenas coerente mas que ele não fazia idéia qual seria o significado.
Então Lorde das Trevas e Abismos Fumanchu, apenas com um gesto dos dedos, arremessou o jovem grado contra o Altar dos Sacríficios, quebrando-lhe várias costelas e fraturando-lhe as duas pernas. Fez outro gesto e o livro saiu voando do chão indo parar-lhe nas mãos.
Jaspion caído agonizante nada podia fazer. Viu quando o Velho segurou o livro com um misto de prazer e repugnância: era a própria encarnação do mal, uma criatura perversa que roía ridiculamente os beiços e dava gritinhos, assoprava com as narinas feito uma besta. Incomodavam-no as próprias entranhas que cozinhavam no fel maldito e asqueroso escorrendo pelos cantos da boca.
Viu-lhe as órbitas negras com olhos pestilentos de quem só encherga monturos, tremerem de gozo ao  rasgar em pedacinhos o Livro Ininterrupto, até as páginas desfazerem-se no pó, sobrando apenas uma vaga lembrança de suas idéias, como o fantasma de um morto que é condenado a marchar sem descanso, incapaz de ver ou escutar outra coisa além do ocorrido no momento irremediável.
E assim, não havendo mais nada o que fazer, sem mais uma gota de esperança, sem mais nada em que se agarrar, sem nunca ter sabido realmente o que havia dito, sentindo também que ia morrer em breve, Jaspion apenas fechou os olhos e teve fé.
Então, como num passe de mágica, como uma coisa que não acontece todo dia, como algo inexplicável perfeitamente explicável, vieram-lhe na cabeça as palavras  benditas que deveriam ter sido proferidas desde o início, e bastou ele pensar na maravilha daqueles nomes que a própria Sacerdotisa explodiu de dentro de todos os seres  e de todas as coisas, e Lorde das Trevas Fumanchu encolheu eté virar uma cebola podre e atravessou os Sete Círculos das Trevas e dos Abismos e foi engolido por um porco, enquanto Pasárgada retirava a maldição de cima do povo, transformando-os em pessoas novamente, pois agora ela conseguia realizar os mais incríveis vôos e espalhava toda a magia da Deusa Onion sobre aquela terra encantada.
Terra Alta tinha agora em mãos o próprio futuro e as pessoas queriam ser felizes, mudando as esperanças em atitudes, construindo para todos um país decente, já que riqueza eles tinham de sobra, desnecessário procurar por aí quando havia um mundo tão grande no lugar onde justamente eles habitavam.

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