segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Esmeralda

       Os galhos partiam-se sob seus pés à medida que ela avançava. Pedaços de seu vestido rasgavam-se e ficavam presos aos ramos que por pouco não lhe arranhavam a pele.  Corria como se não precisasse de pulmões, e em meio àquela floresta escura, que aos poucos ia se tornando azulada pelo nascer do sol, ela sentia-se em casa.
Sua vida, como o lugar que a cercava, sempre fora repleta de perigos ocultos, de galhos pontudos que tentavam de qualquer modo atingi-la, mas que conseguiam tão somente rasgar os pedaços de sua roupa que ficavam pelo caminho. Os seus olhos bebiam os primeiros raios da manhã que varavam pelas copas, os pássaros todos tinham já acordado, e que lindos eram os diferentes cantos que se juntavam num som jamais imitado por qualquer instrumento humano.
Estava próxima do final do caminho, sabia porque conseguia sentir o cheiro úmido e vivo que vinha do mar à frente, a maresia e o sal que impediam o musgo de crescer nos troncos pelos quais ela passava agora, sempre correndo e cada vez mais feliz, e a felicidade era tanta que escorria em pequenas gotas pelo canto dos olhos, e o brilho contra os raios solares deixavam pelo tapete daquela floresta caírem os pequenos brilhantes, que eram absorvidos pela terra fresca.
Finalmente ela pôde enxergar alguns metros à frente a claridade absoluta que vinha da manhã nascente, e o esplendor do sol atingiu-na em cheio quando ela saiu da mata e postou-se na beira daquele abismo, com o mar descortinando-se esverdeado, batendo nas rochas sob seus pés muitos metros abaixo, cor de espumas de esmeraldas.
"Meu nome também é esmeralda...", pensou ela quando viu tudo aquilo que com absoluta certeza o Senhor dos Céus havia criado, com o objetivo de que ela sentisse prazer ao estar ali naquele lugar, que Ele havia-lhe determinado e que em pensamento também lhe dizia: "Vês! E para sempre toda esta terra e estas águas, e todos os animais que andam por cima da terra e nadam por debaixo destas águas serão teus. E tudo o que foi por Mim criado está agora em tuas mãos, e toda a vida que virá de ti será através deste êxtase que sentes agora, porque assim Eu quis."
Ela estendeu os braços, fechou os olhos que choravam de uma felicidade que era mais que felicidade, e mais ainda que qualquer sentimento, e tão grande era a força daquelas palavras que escutara, que ela teve certeza: Se quisesse se atirar no abismo não morreria. Ao contrário, alçaria vôo ao céu longínquo, e gritaria com toda a força de sua alma um amor imenso pelo mundo, capaz de alcançar as estrelas.

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