sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Um Dia De Praia


          Arrumamos nossas coisas, fechamos a casa e saímos para encontrar nosso amigo Rodão e sua mulher Aline, além do Baratão e do Surfista e a namorada dele. O combinado tinha sido sair bem cedo para aproveitar o dia todo na praia, tomar banho na maré, fazer avoado, pegar jacaré, essas coisas...
- Égua, mas uma hora dessas? Tou acordado olha que tempo! Vi foi o sol nascer deitado aqui.
Não duvidava que o Baratão tivesse acordado cedo. O problema é que ele tinha acordado mas continuara deitado na rede, e quando chegamos ele estava apenas 'cochilando' enquanto nos esperava:
- Então já chegamos, pelo menos enche umas duas garrafas dessas de dois litros que não vai ter água pra tomar lá.
- Mas precisa de duas garrafas?
- Cara, são nem oito horas e olha esse sol! Leva que a gente vai sentir sede.
- Seu moço, falando em sede, me diga uma coisa aqui pra esse seu amigo: estás levando o nosso goró?
Dessa vez foi a Nise quem falou:
- Credo, Baratão! Mal levantastes, não tomastes nem café e já estás pensando na cachaça! Eu, hein!?!
Ele reclamou que já tinha tomado café sim, 'vocês não escutaram eu dizendo que tou acordado desde cedo?', e que só tinha perguntado da birita porque no dia anterior eu tinha prometido que ia trazer. Então mostrei pra ele no saco junto com as frutas e a farinha as duas garrafas de Cinquenta e Um, e eu esperava que fosse suficiente praquele fígado. Mais animado, ele resolveu se levantar da rede, encheu as duas garrafas, e saímos os três para encontrar o Rodão e o Surfista.
- Égua, eu já estava indo lá chamar vocês!
Uma das coisas mais incríveis da ilha era que todo mundo acordava com o nascer do sol, mas para não fazer absolutamente nada. Alguns ficavam apenas se embalando, outros fumavam logo o primeiro do dia, e a maioria fumava deitada e se embalava. O que não era o caso dos meus amigos: o Rodão já tinha limpado e preparado os peixes que pegara na primeira vazante da madrugada, no curral do Seu Bacuri; o Surfista já estava lá com a namorada e a prancha, e ninguém tinha fumado nenhum ainda.
- Tudo certo, bora logo antes que o sol esquente mais!
E lá fomos nós sete, descendo na direção do começo da trilha que pegaríamos para chegar mais rápido à praia do Meupé. Indo por ali ficava mais ou menos a uma hora de distância, contornando a entrada do mangue.
O Surfista bolou um enquanto a namorada segurava a prancha; o Baratão matou praticamente sozinho metade de uma garrafa de cachaça; eu e a Nise parávamos às vezes para bater umas fotos, pegar uns ajirús nos arbustos, se refrescar no igarapé que já era bem próximo da praia, até que finalmente chegamos.
Saímos do mato direto para a areia branca, exatamente nos fundos da casa de salgar de algum pescador. Parecia que estava desocupada fazia tempo, e lá deixamos nossas coisas,  juntamos uns paus para mais tarde fazer o fogo, e logo em seguida corremos para se jogar na maré.
E foi a manhã toda assim, entre goles de cachaça, pernas de grilo, água, frutas, farinha e avoado que passamos o dia. Revezando-nos com a prancha do Surfista, embalando-se na rede, jogando bola, ou simplesmente sentados na sombra embaixo do telhadinho de sapê entrançado, sentindo o vento que vinha do mar, salgado e ininterrupto, colaborando com o mormaço no paciente trabalho de curtir as peles dos bichos que éramos, naquele espaço enorme de mundo onde a gente não fazia nem peso, nem pesava em ninguém.

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