domingo, 28 de agosto de 2011

Primeiro Beijo

        O Thiago jogava muito bem, ele e o Igor eram os únicos da vila que não podiam ser do mesmo time, pela desproporção das forças em relação ao restante de nós, apenas esforçados. Tirante o Bernardo, que só participava das peladas porque era dono da bola, já que seu único recurso era dar chutões e barrigadas nos menores, pois ele nem sempre acertava a bola.
Até que eu não era tão ruim, mas  a posição de zagueiro dificilmente é notada, por maior o esforço que se faça nas divididas e desarmes. Todo final de semana era sagrado a molecada da vila bater uma bolinha, usando como traves os portões das duas casas que ficavam nos extremos do que a gente chamava de 'campo'; a do próprio Bernardo e a do Plínio, que por causa disso sempre era convidado para jogar, embora o que ele preferisse mesmo era brincar com as meninas que às vezes eram a nossa torcida.
- Vai Marcos, não deixa ele passar com essa bola!
Eu e o Bernardo somos da mesma altura, mas naquela época ele tinha bem mais corpo que eu, e a única coisa que eu podia fazer para evitar que ele avançasse para o gol, seria calçando o pé direito na bola e mantendo o esquerdo para trás como apoio, evitando uma daquelas terríveis barrigadas, pois ele não sabia driblar. Ele veio com tudo e encheu o pé, a bola dividida espirrou pro canto e ele caiu em cima de mim. Do chão ainda vi o Thiago pegar a sobra e marcar com o gol vazio para o time deles.
 - Grade!
O Igor nem me deixou levantar direito e já foi me esculhambando, dizendo que a culpa do gol era minha, e em parte era, só que aquele nosso time estava uma porcaria, ninguém se lembrava de voltar para marcar quando perdia a bola, e o Plínio estava mais interessado em não sujar a roupa do que em ajudar nosso time na partida.
Fui sentar meio puto próximo das meninas, não ficaria perto do Igor, que àquela hora dava um esporro no Rick, coitado, o mais novo de todos, que parecia prestes a chorar. Prestando atenção na cena, nem percebi quando uma garota que eu nunca tinha visto sentou do meu lado:
- Tá doendo?
- O quê?
Ela apontou pro meu braço, e eu vi que tinha arranhado o cotovelo naquela última dividida, mas era um machucadinho sem importância. Olhei para a garota que havia me perguntado isso, e no mesmo instante senti algo no peito que me fez baixar os olhos. Ela era muito bonita, devia ser um ano ou dois mais velha que eu, mas do jeito que falava, com uma voz tão amiga e com a pele fresca de quem havia acabado de tomar banho, me deu a sensação de que eu era um moleque sujo de rua, o que naquele momento realmente era.
- Isso não é nada não, depois sara.
- Não queres ir ali na mangueira do prédio lavar?
Tinha começado a me lembrar dela. Era a moça que sempre via a gente jogar nossas peladas de fim de semana, de um apartamento do quinto andar onde morava, no prédio que tomava todo um lado da  nossa vila. Descobri então que ela tinha virado amiga da irmã do Thiago, e que agora começaria a descer com mais frequência para bater papo. Ela perguntou de novo se eu não queria me lavar, eu estava meio confuso, não achava mesmo que aquele machuacado fosse grande coisa,  mas para não dar uma de mal educado acabei entrando com ela pela garagem, que era onde ficava a cisterna do prédio.
O nome dela era Tainara, e enquanto eu lavava os braços e aproveitava também para molhar a cabeça e tomar um pouco d'água sem que ela percebesse, disse-me que sempre que escutava o nosso jogo de bola, ela ia dar uma olhada para ver se eu estava jogando também.
Quando ouvi aquilo quase engasguei e deixei a mangueira cair no chão, molhando um pouco a barra do vestido dela. Não sei se foi também por causa do cansaço, mas senti naquele momento as pernas bambearem um pouco e o meu rosto ficando muito quente, como se água ao invés de refrescar estivesse fervendo na pele.
- E-eu te molhei? Foi mal, é que...
- Deixa pra lá.
Ela disse isso sorrindo, no momento em que eu criava coragem para olhar mais uma vez pra ela e pensava "que sorriso lindo!". E devo ter ficado com cara de babaca, porque ela riu mais ainda, me segurou pelo braço sem se importar com o machucado, e foi me conduzindo até o fim da garagem, num canto em que a gente não podia ser visto.
- Você já beijou uma mulher na boca?
Juro que não consegui dar nenhuma resposta, estava fascinado com a presença que aquela garota tinha, quase da mesma idade, mas bem mais madura que eu. Ela entendeu perfeitamente que eu nunca tinha beijado, deu mais um daqueles sorrisos maravilhosos, que dessa vez quase fez meu coração arrebentar dentro do peito, e foi aproximando o rosto e aquela pele fresca e perfumada de mim, que não sabia o que fazer, quando enfim ela encostou os lábios rosados nos meus, e senti aquela lingua macia e gostosa brincando dentro da minha boca, passeando pelos meus dentes, com o sabor mais doce que já havia experimentado, me incentivando a fazer o mesmo, e eu me segurando para continuar de pé, já que minhas pernas tinham perdido de vez as forças.

Nenhum comentário:

Postar um comentário