quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Rádio Invasão: Pausa Para Os Comerciais

"Onde a idiotice reina, a justiça se esconde."

Estou no meio do programa da rádio, quando vibra o celular:
  - Atende logo aí, Wálter, deve ser algum ouvinte!
-É a Larissa, toma pra ti veres o que ela quer...
Era uma das nossas amigas produtoras/colaboradoras/locutoras/etc,  dizendo pra gente cair fora: ela tinha acabado de ver o carro da polícia federal dobrar a esquina, no momento em que estava saindo da nossa rua. Desliguei e avisei meu amigo da situação,  exatamente enquanto começavam a  bater forte na porta lá da frente. Como não tinha mais tempo de sair correndo, tentei então esconder o transmissor no forro da casa, mas não consegui. Logo os agentes arrombaram a porta do estúdio e me deram voz de prisão. O Wálter pegaram enquanto ele tentava pular o muro pro quintal do vizinho, com uma das mãos cortada pelos cacos de vidro que o Seu Gilberto tinha cimentado para se proteger dos  ladrões.

- É isso aí macacada! Estão os dois presos e a gente vai apreender e levar todos os equipamentos que vocês têm aqui e...
Fiquei olhando pra cara do oficial, que parecia estar se deliciando por mais uma arriscada e importantíssima operação bem sucedida, com o Wálter algemado do meu lado pra não tentar  fugir de novo,  quando o polícia pára de se congratular, dá uma fungada no ar do ambiente, da mesma forma que faria se um de nós dois tivesse peidado, olha fixo então pra mim com um sorriso de pura alegria e diz, como se tivesse acabado de descobrir por acaso o Fernandinho Beira-Mar na minha lixeira:
- Epa! Opa! Eu sei que cheiro é esse! Alguém aqui estava fumando maconha antes da gente chegar! Qual de vocês estava fumando, onde foi que esconderam a parada? Deixa eu ver o dedo de vocês, assopra aqui um pouco do teu hálito na minha cara, ô fujão!
O meu amigo provavelmente achava que nós íamos ser mandados para Alcatraz, então assopraria o bafo dele até na cara do Papa. Mas para infelicidade do federal quem tinha fumado erva não tinha sido nenhum de nós dois, e sim a Larissa, que tinha passado pra dar um alô e aproveitado também o estúdio fechado pra queimar unzinho, levando depois a beata num potinho que guardava na bolsa.
 
Logicamente que eles não acreditariam na palavra de dois delinqüentes, então deram uma geral na casa, digna de figurar nos melhores filmes de tráfico brasileiros. Viraram inclusive o cesto de lixo no chão, provavelmente atrás de papéis amassados, baganas de cigarro e copinhos de café, pois era só isso que havia lá dentro, como o já nem tão alegre Oficial Da Polícia Federal brasileira pôde constatar com as próprias mãos.
- Ah, eu não achei nada mas não tem problema! Com certeza souberam esconder  muito bem! De qualquer forma, eu vou ter que levar logo vocês pra lavrar o flagrante lá na delegacia, pois ainda tenho de cumprir mais uma missão especial hoje!
Oxalá não fosse inspecionar o desembarque de peixes na pedra do Ver-o-Peso, depois de um serviço tão heróico quanto aquele, de prender e levar embora dois jovens mais ou menos batalhadores, mais ou menos idealistas, mas muito profundamente entristecidos, vendo o país desperdiçar daquela forma o tempo de seus agentes e o erário público.
Que com seu modesto equipamento não viam crime nenhum em propagar pelas ondas do ar aquilo que pensam, aquilo que gostam de escutar, aquilo que querem que os outros escutem. Algo que procurávamos não fosse alienado e idiotizante demais, quase uma gota no oceano, mas que talvez somado a outras atitudes ajudasse um dia a mudar o estado das coisas e das pessoas pra melhor.

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