segunda-feira, 18 de julho de 2011

"Os homens são tão necessariamente loucos que não ser louco seria uma outra forma de loucura."

"A vida de todos está por um fio, não existem mais regras e tudo parece relativo.

Ética, certo, errado, relativos."



 Amai o próximo como amas a ti mesmo.

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Alguns relacionamentos começam e terminam quase por acaso e, da mesma forma que sim, também não dependem da nossa vontade muitos dos fatos e atos do cotidiano. Exemplo é apaixonar-se, na maioria das vezes apenas para ter certeza de que não ia dar certo mesmo, justo com pessoas cujo comportamento tende a tornar-se cada vez mais imprevisível ao longo da união,algumas chegando até a surtar, ao contrário do que julga o senso comum de que o tempo de convivência desvenda-nos aos poucos os mistérios do outro.                                                                                                                 Nesta forma de compromisso é que, há quase um ano, Jessé e Fernanda  viviam, embora desde o clima que rolou entre eles quando se conheceram numa festa, até assumirem o namoro frente aos amigos, ninguém apostasse uma ficha na felicidade do casal, devido às marcantes características de personalidade e exigências do ego de ambos.            
Jessé achava que o problema deles viverem brigando seria devido à eterna implicância de Fernanda, de forma mesquinha tentando controlar sua vida, mas fazendo o que bem entendia sem nem se importar com as necessidades dele; e toda vez que estavam juntos ela teimava em  discutir  a relação, o que invariavelmente terminava em descontrole generalizado, gritos histéricos, copos quebrados, cinzeiros espatifados, portas batidas com estrondo e alguma ou outra luxação, além da aporrinhação do peso na consciência depois.
Nanda achava Jessé um cara muito egoísta e misógino e não fazia nada nunca para tentar agradá-la; andava por aí com um bando de piranhas além duns rapazes que aparentemente não teriam bom futuro, e quando ela perguntava "Por que você está fazendo isso, destruindo nosso amor?", ele enfezava-se de vez, e xingava e esbravejava, dizendo que não gostava de conversar embora ela adorasse falar, então ela arremessava um copo ou cinzeiro ou o que estivesse à mão nele, batia violentamente a porta atrás de si e ia chorando de ódio pela rua, querendo chegar rápido em casa para afundar a cara vermelha no travesseiro, tão sofrida que às vezes sentia dó dela mesma.
Na hora do sexo não era diferente. A ânsia com que haviam buscado-se anteriormente não mais existia, e era até com certo enfado que agora uma vez por semana, sábado ou domingo, se entregavam ao ato resignados, um mais entediado que o outro, sendo mais visualmente notado este fastio em Jessé do que em Nanda, ao estarem nus, o que obrigara-o nos últimos tempos a tomar meio comprimido azul nos fins de semana ao deitar-se ao lado da mulher,  para que esta não desconfiasse de amantes que ele infelizmente não tinha, embora a maioria de suas amigas e das dela fossem umas piranhas que costumavam transar com homens comprometidos todo o tempo sem o menor remorso.
O nó górdio, o "xis" da questão, seu ponto nevrálgico, o grande busílis,  el punto fijo,  o resumo da ópera, etc., era que nenhum dos dois, por qualquer motivo, queria terminar aquele relacionamento estacado em terreno pobre e infértil, num torrão de onde o  melhor agricultor não faria brotar mísero pé de planta, muito enganando-se o fado ao promover o infeliz encontramento destas dessemelhantes criaturas.
E a estória poderia prolongar-se, contar sobre a causa inesperada que interveio no destino de ambos, pondo-os separados desta vez para sempre sem chance de volta, o que decerto lhes faria grande bem. Sobre como fenômenos aparentemente  singelos  podem ser o moto que faltava para desencadear uma avalanche,  transformando  irremediavelmente nossas vidas, para o bem e para o mal. E do porquê as pessoas terem tanto medo de ficar sozinhas, medo atávico de envelhecer sem alguém ao lado, mas sabendo de antemão que a viagem última que nos espera não admite acompanhantes, pruma dimensão onde nossa inteligência não alcança, que também não sabemos onde ou se fica realmente em algum lugar.

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