sábado, 23 de julho de 2011

Sobre os Insetos

"O pato é quem é mais inteligente que o homem; nasceu de dedo grudado para não ter que usar aliança..."


Quando Deus fez a terra planejou tudo, toda a beleza que seria Sua criação até nos menores detalhes, bem antes de pôr-Se à obra, o que deu motivo para que certas pessoas prefirissem chamá-lo de Grande Arquiteto, provavelmente os arquitetos.
De qualquer forma, prestando atenção à natureza pode-se vislumbrar um pouco desta razão que parece ter criado o design de bichos peculiares: a girafa, que tem um pescoço longo para comer as folhas das copas das árvores; o elefante que usa da tromba como se de um braço; o leopardo, do qual animal algum ganha na corrida; e muitos outros exemplos de bichos que vivem na água ou na terra, no quente ou no frio, bichos esquisitos e outros nem tanto,o certo é que todos imprescindíveis para o perfeito andamento dos desígnios divinos. Inclusive os minúsculos insetos, que exercem suas importantes funções praticamente invisíveis, a não ser quando reproduzem-se descontroladamente e são tratados como praga.
Foi assim que as formigas e as abelhas, não podendo ocupar o mesmo nicho sem o risco de dizimarem-se pela competição, foram sabiamente alocadas, uma a voar e a outra a andar pelo chão da floresta, de forma que ambas tivessem opotunidades maiores de sobreviver ao ataque dos tamanduás-papa-formiga e das vespas-bebedoras-de-mel.
Nessas duas sociedades, e é sabido que até os bichos buscam o progresso, construiu-se uma forma de governo muito equilibrada, perpetuando-se deste tempos imemoriais, onde a organização perfeita dos afazeres permitia a todos o quinhão correspondente à sua cota de sacrifício, tanto entre os que buscavam folhas quanto entre quem visava o pólem das flores.
Como não há progresso na anarquia, quem comandava a produção do que era executado pelas abelhas e formigas operárias durante o dia eram a abelha e a formiga rainha, através de uma burocracia sustentada, ali pelos zangões supervisores da colméia, aqui pelas formigas-de-fogo, que supervisionavam tudo dentro do formigueiro, ambas pertencentes à classe encarregada do cansativo trabalho de ficar olhando os outros trabalharem.
Nada poderia quebrar esses dois exemplos de sociedade justa e igualitária, mas como a exceção que confirma a regra, havia um porém: já que era a formiga-rainha quem mandava, pois além do mais era a única que podia botar larvas de mais formigas, somente ela podia receber a melhor e mais saborosa parte do fungo produzido, dando-se o mesmo na colméia com relação à abelha-rainha, que conseguia tomar sozinha mais mel do que duas dúzias de zangões juntos.
Acontece que os tais supervisores começaram a achar pequena sua cota na hora da divisão dos lucros, alegando que sua atividade, devido à grande responsabilidade, deveria receber uma parte maior do bolo, no que foram duramente repreendidos pelos superiores. Acontece que, insatisfeita, a classe acolitou-se numa confraria secreta, conseguindo assim burlar a vigilância das suas respectivas rainhas, ao contrabandear para si uma parte muito superior do alimento que lhes caberia numa divisão justa, mesmo que para isso estivessem deixando várias abelhas/formigas operárias morrerem de inanição. Com o fito de manter tudo no mais absoluto sigilo, os membros da impoluta confraria minimamente suspeitos de tentar delatar o arranjo eram sumariamente julgados, condenados e mortos por seus pares, que assim conseguiam dormir com a consciência um pouquinho mais tranquila.
Só que aí o Criador achou isso tudo uma patifaria, pior que Sodoma e Gomorra, resolvendo então de última hora acabar com formigas e abelhas usurpadoras do bem comum: botou no mundo uma criatura estranha, o homen, que mais parecia um projeto piorado do macaco, já que deste não contava nem com a proteção dos pêlos nem com a dignidade de uma cauda, o que era motivo de imaginarem se desta vez o Grande Arquiteto não se enganara ao deixar um projeto notadamente incompleto.
O que não contaram foi que o homem, nú e com frio, usou da inteligênca que havia recebido a critério de indenização, e com o couro dos outros animais e às vezes até do seu semelhante, inventou as roupas, para logo em seguida um feio inventar a moda. Foi assim que devido à caça indiscriminada acabaram-se as onças da floresta, pois sua pele tinha uma apreciação altíssima nos leilões da alta-costura, o que levou consequentemente a um inédito desequilíbrio ecológico: a começar pela superpopulação de tamanduás que dizimou as formigas, até o gigantesco enxame de vespas-bebedoras-de-mel que levou as abelhas ao extermínio.
E como Deus viu outros animais tão ou mais desobedientes por aí, resolveu castigá-los também de forma semelhante, utilizando-se do homem e suas manias para este fim, até o dia em que Ele sem se dar conta acabou deixando o homem só no mundo, e foi o fim da pobre raça.

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