quinta-feira, 21 de julho de 2011

Um Conto Americano

"Porque concluir ou reconhecer uma aprendizagem não significava necessariamente passar a agir de maneira diferente."


        George Gardner,um cidadão americano como outro qualquer, apaixonou-se por Betty, uma loirinha corada e sardenta, com grandes blue eyes, que costumava arregalar de espanto ao colocá-los sobre as invenções por vezes malucas do pertinaz pretendente, que tentava amiúde de todas as maneiras conquistar o coração da bela objeto de sua paixão; esta que achava sempre muita graça no jeito apalermado de Mr. Gardner dizer e fazer coisas esquisitas, como subir de costas nos postes da rua e gritar lá do alto seu nome de trás para frente e de frente para trás, e debaixo para cima e de cima para baixo, durante vários dias se a police não aparecesse.
Certo dia, sem muito sorrir e com a expressão um tanto sombria, mas até por isso muito mais bonita, pensou George, ela chamou-o para que conversassem sossegados num coffee shop, pois tinha uma coisa importante que precisava dizer-lhe. 
Os dois entraram no estabelecimento que ficava na esquina de St. Paul Street com a BirdCat Avenue, atraindo os olhares dos que estavam lá dentro e que já eram conhecidos de George à tempos, ele portanto não precisava mais cumprimentá-los toda vez que os via, o que seria uma coisa mais estúpida de fazer do que as coisas estúpidas que ele sempre fazia.
Betty sentou-se à sua frente numa mesinha dos fundos e pediu uma diet coke e um copo com gelo, enquanto ele preferiu uma budweiser que começou a tomar meio de lado, para fingir que estava distraído do que ela tinha para falar, o que não era verdade, pois ele estava muito curioso e só fazia isso porque tinha lido numa revista brasileira uma dica assim: para fazer as mulheres enloquecerem basta demonstrar uma calculada indiferença enquanto falam. E Betty parecia mesmo estar ficando doida com o comportamento dele, tanto que xingou-o mentalmente de ' foolish sweet ass' e teve vontade de atirar-lhe à face o copo com refrigerante e as pedras de gelo.
Sem poder continuar parecendo distraído, por medo de ter seus olhos baços perfurados por um caco de vidro se persistisse naquela patetice, tomou então um gole da lager com grande empáfia, encarou novamente os blue eyes de Betty. Eles estavam arregalados como ele nunca os tinha visto, da cor do grande oceano à oeste que lavava a areia branca das praias da California,  como se o que ela estivesse para dizer não fosse tolice ou capricho, mas algo vital,como o respirar de quem nasce e que só pode vir ao mundo com um choro de abundantes lágrimas, tantas quantas forem necessárias para encobrir com sua volúpia um olhar tão belo e misterioso e profundo, como o pacific ocean blue nos olhos da garota.
"So, Betty, what's the matter?"
"Oh George, it's so hardly weight for me! I wouldn't can tell you about all that shit becouse i promisse to myself, but i was thinking..."
Mas ela não terminou a frase, pois desta vez George estava olhando para a tevê em cima do balcão onde estavam transmitindo o playback de um jogo dos Sucks vs.Bitches, uma daquelas partidas de football maçantes, esporte violento e sem sentido que eles, americanos violentos e sem sentido tinham inventado para competir com o soccer inglês, mas que infelizmente só ficara popular dentro de seu próprio território.
Betty então terminou sua coca, deixou uma nota de dólar em cima da mesa, levantou-se e foi embora sem falar mais uma palavra com aquela besta que tanto tempo importunou-a dizendo-se apaixonado, mas que era apenas um dos tantos assholes existentes por aí, que se mexem e perambulam  sem mais o quê na cabeça, e sem vontade fazem qualquer coisa para não acabarem ficando muito entediados. 
George fez menção de levantar e sair também, mas continuou sentado e pediu outra cerveja, não mais prestando atenção ao programa de esportes, sentindo por dentro uma tristeza repentina, que não era bem tristeza porque era também um pouco de felicidade.
Uma melancolia por não ver mais uma vez os blue eyes de Betty, misturado com alegria por saber que eles existiriam ainda por muito tempo com seu brilho que ele infelizmente não conseguira suportar, o peso da confissão de um segredo íntimo, que talvez tivesse a ver com a intimidade dos dois, mas se nem namorados eram, ela não pediria uma coisa dessas a ele e nem ele pediria nada a ela.
Foi então por um momento, quando já terminara a segunda cerveja,  que mr. Gardner lembrou-se da resvista estrangeira onde lera a dica, que naquele país tropical resumiam essa estranha sensação de perder algo que nunca se teve de verdade, com uma única palavra, nem bela nem feia, mas cujo significado ele desconhecia, como a estranha sensação de estar vivo e ter um filho que já morreu.

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