terça-feira, 15 de maio de 2012

Grande Cara Gente Finíssima



        Teve um mano que fazia bem mais de ano que eu não via e sabe-se como apareceu lá em casa.
        Quando desci, olhei e não acreditei:
        -Pô, és tu, seu João Pedro?
        -Não, é a tua mãe! Abre logo esse portão, pôrra, não tá vendo o sol?
        -Putz, desculpa mano, entra aí...
        Era uma figuraça da mais alta estirpe, a fina flor da pilantreza e safadagem, gente fina do carvalho; andou tanto tempo sumido que eu imaginei que tinha virado puta nos garimpos do Suriname ou tava morto, que é quase a mesma coisa.
        Perguntei como é que andava a vida dele: me disse que tinha parado de fumar e de beber, aí emendei em seguida:
        -Pô, mas não aceitas nem uma cervejinha?
        -Ué, tens cerveja aí?
        -Aqui não tenho, mas é só pegar nesse bar aí do lado...
        -Pôrra, Demorou!
        Altos papos.
        João contou que foi embora depois de casar contra a vontade dos pais, com uma mulher que eles diziam que não prestava, depois abandonou os estudos e passou dois anos morando na casa dela, em outro estado, outro clima, fazendo bico como árbitro de futebol. Passado um tempo lá, começou a discutir com os sogros, o que virou motivo para que a esposa vivesse brigando com ele.
        Até que resolveu:
        -Quer saber? Não te aguento mais! Olha, fica com Deus, que eu vou voltar pra minha terra.
        Então decidiu viajar de volta, então conheceu uma pequena com quem subiu o litoral, até chegarem em nossa cidade naquele exato entardecer; ao fim das contas, disse só precisar dum lugar pra ficar aquela noite com o amor da vida dele: tinha planejado que só no outro dia, depois de tomar coragem, encararia novamente a família.
        -Relaxa, mano, vocês podem dormir aí na cama, que eu vou armar minha rede  no outro cômodo.
        -Pô, valeu aí chapa! Quebraste meu galho!
        -Fica frio, você merece. Chama logo tua mina, só me esculpa a bagunça.
        -Quê isso, meu chapa! Eu que te digo, valeu mesmo...

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