sexta-feira, 11 de maio de 2012

Uma Árvore no Quintal


       E novamente a estranha sensação, apesar de não completamente desconhecida, de leveza e calma tocava-lhe o peito, como num pôr-do-sol de abril, as plantas na terra úmida regadas pela última chuva da tarde.
        O mato começou então a se espalhar, cobrindo todos os cantos e frestas com uma voracidade selvagem; flores impossíveis apareciam amiúde por entre a verdura que crescia no mínimo espaço; formigas, aranhas, besouros, centopéias e vários outros insetos alastravam-se naquele ambiente natural, além dos grilos e mariposas e vaga-lumes que só saíam à noite.
        O clima aos poucos ia amenizando; o calor já não era tão sufocante; a luz do sol já não mais cegava; por enquanto podia sair à rua e identificar todas as cores e formas, ao invés de apenas o contorno dos objetos.
        Percebia a beleza do mundo outrora desfocado; até a parte antes encoberta pelas sombras tinha agora o tom do ouro, na aprazível composição daquele ambiente.
        "Chegava-se por uma linha de ônibus, todo dia entre cinco e seis horas da tarde, começo da noite, isso dependendo das condições da estrada, se tinha chovido muito ou não, se alguém tinha tentado tapar os buracos, e geralmente alguns moradores costumavam fazer esse favor."
        Tomou mais um gole, esvaziou o copo. Desceu as escadas no escuro, pois já estava acostumado. 
        Chegando na cozinha tomou quase uma jarra inteira da'água. Depois abriu a porta que dava para o quintal e olhou para o céu, sentindo-se agradecido: O jambeiro possuía, entre o verde e o marrom daquela mixórdia, a única cor arroxeada do fruto temporão.

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