terça-feira, 22 de maio de 2012

Método Sem Método




        Tinha o mundo torcendo contra. Como pode o balanço natural desse mar gigantesco, outrora tão frutífero, despertar a ira dos invejosos sem espírito? Esse mesmo mar reverenciado a cada dia pelo pescador, que sai por esse mundão de água, enfrentando qualquer tempo e as dores em busca do peixe sagrado, que é seu sustento e alimento de sua família?
        -Êh, seu Lázaro! Depois de duas semanas, já de volta! Mas rapá, como foi bem aí, hein?
        -Égua que nada! Lá na costa costumava dar muito mais! Tinha época em que a gente ia pra fora, passava nem bem uns três, quatro dias, e tinha que voltar com o porão abarrotado, o barco quase transbordando na linha d'água, socado dum jeito que dava medo que fosse adernar: mas era tanta dourada e anchova que fazia lama! Às vezes a gente tinha que jogar uma parte fora, pra não correr o risco de afundar no meio da baía!
        Todo mundo ajudou a descarregar o porão; depois daquele tempo todo o gelo já tinha derretido. A solução era limpar e salgar a carne, pra vender pela metade do preço que o atravessador pagava pelo peixe resfriado, bem mais valorizado.
        -Por que não enches de novo esse porão de gelo e leva pra capital, pra fazer render tanto trabalho?
        -Só se eu fosse em Maracanã, que lá eu compro a saca direto do dono da fábrica, mas não adianta: passa dois, três dias, se não vendo tudo logo, começa a estragar, é só prejuízo, não tem geladeira que dê jeito! Segura faz favor esse negócio daqui...
        Era muito serviço, mas todo mundo que ajudava parecia feliz; sabiam que no final do serviço iam ganhar o almoço da semana inteira, por isso ficavam até alta madrugada.
        Quando a maioria do pessoal tinha ido embora, o peixe descarregado nos isopores, era quase de manhãzinha. Dava pra ver que o sol não tardaria a aparecer no horizonte:
        -Desculpa, seu Lázaro, mas já acabou o serviço, então deixa eu ir pro meu barraco, descansar.
        -Espera um tanto, escuta só: não dorme muito não que faz mal! Passa lá em casa bem cedo, que assim que a gente terminar de botar no sal isso tudo, vais comer o melhor avuado da tua vida! Olha só esses "banderado" que separei pra gente aqui, ó...
        -Deus te abençoe, seu Lázaro, então até daqui à pouco.
        -Vá, meu filho, e bom descanso...

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