quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Antes Que Seja Tarde

As coisas nunca são como as espero, como quero que sejam. Não preciso enxergá-las para saber o que vejo: estou atento, ando no escuro nesse momento e toco em algo com o braço, que é nojento. Posso sentir o fedor que vem da minha frente como carniça de bicho podre, que se desfaz quando toco-lhe os dedos. Fatalmente o ambiente onde me encontro é inebriante, acabou-se o tempo da alegria, tudo agora é morte agoniada. As cores cinzas; os amores, piada. Tateio no escuro e sinto ferir-me um corte: sorte!
lamento esta vida torpe, busco encontrar o caminho que livre da dor, pois sinto na carne esta ferida que me escorre feito pus, viscoso e amarelo. Posso sentir as bactérias multiplicando-se sob meus dedos, e a vida assim me mostra que no fim das contas é óbvio que além de tudo nada mais me reserva. Minha pele e minha carne andam mortas, pelo motivo fatal de estar alienada do real minha cabeça, presa do vício e da mentira, da hipocrisia e da falta de valores e idéias. Como pode salvar o mundo que se encontra condenado?
Sexo. Céchu. Çécsu. O que será isso? Um pêlo que pede para ser lambido? Algo que se descobre quando talvez seja tarde demais, e novamente tornamos ao hábito de mascarar a realidade nos obrigando a chamar aquilo de amor? Dou de presente esta lição: não sou e nem posso ser nada além daquilo que dá forma e determina o meu pensamento, a única coisa que devo ser é sempre objeto da análise do meu próprio intelecto, pois quem  somos é não só a figura que vemos frente ao espelho, mas o caráter presente e futuro desenvolvido e estimulados por nós, que apesar de toda segurança de opinião que tiveres, inevitáveis serão as mudanças e com elas as mudanças.
Conhecer todo tipo de gente. Com algumas serei obrigado a conviver até certo ponto, com outras convivo espontâneamente e às vezes procuro a companhia. Me agrada ver a luz que atravessa aquela fresta na janela e vem pousar no teu corpo, e suavemente o teu corpo afaga, e os meus olhos têm a sensação da tua pele macia que roça a minha, e sorris porque eu me animo encostando em ti. Estamos ofegantes e suados, estás cansada e eu também, mas é impossível não sentir frio quando encostas o bico do teu seio no meu antebraço.
Talvez tenha respostas em breve. Talvez eu não saiba de nada, e esta seja a despedida. Talvez fiquemos milionários, quando amanhã eu ganhar na Mega-Sena. Ou então um ódio mortal me acometa e com meus dentes rasgue tua carótida furiosamente e assim te mate. E o ódio descontrolado arranque as folhas destes galhos, no ímpeto das mais violentas chuvas, e caiam e apodreçam frutas, e venha com a escuridão pragas indizíveis de mau agouro.
Egoísta ante tua imagem genuflexa, darei-te o que me pedes, enquanto despertas minha lascívia com tuas brincadeiras, mas espero até sentir o gosto bom entre tuas pernas, até que por fim relaxas e afastas as coxas e molhas meus dedos e minha cara, depois inundo tua boca do que me pedes, até ficares farta e me virares as costas.
Depois de tudo sobrarão as lembranças desta época de liberdade delirante, que um dia enfim sufoque minhas vísceras então eu morra, ou até que fique velho e ao fim me foda escangalhado, num joelho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário