sábado, 17 de setembro de 2011

A Mulher e a Música das Nuvens


                Era uma vez uma mulher que gostava muito de viver sua liberdade, tanto que toda a manhã saía para caminhar pelos campos de monocultura de uma empresa estrangeira que veio cultivar naquela mata sem fim, onde finalmente tinham conseguido botar a floresta abaixo, livrando-a dos animais perigosos e insetos inoportunos.
                Dária sempre que caminhava entre as plantações, prestava bastante atenção no som que o vento fazia ao passar pelas folhas, e olhava para cima admirada com a dança das nuvens, que para ela eram regidas pelo mesmo vento que lhe agitava os cabelos, no que tinha absoluta razão.
                Certo dia, numa dessas caminhadas, apareceu-lhe pela frente um elfo de mais de um metro e oitenta, ombros largos e olhos claros, que percebeu-lhe a pureza dos sentimentos no coração palpitante, então a fez apalpar até sentir endurecer outra coisa sob suas calças.
                E foi ali mesmo, deitados entre o verde daquele campo de soja, sob o sol forte do meio dia equatorial, num sábado com céu limpo, que Dária percebeu pela primeira vez como o mundo realmente girava.
                Desta forma, ela passou todos os dias a se encontrar naquela mesma hora com o elfo, que variava cada vez mais as posições em que iniciara a jovem mulher, e ela agora imaginava se assim como as folhas e as nuvens, os movimentos daquele desconhecido não seriam também regidos pelo vento, como se ele fosse apenas mais uma nota desta música misteriosa que era sua vida.
                Os dois deitados de costas olhavam para as nuvens que mudam a cada instante de forma, sem nunca se fixar numa mesma imagem por muito tempo:
                - Já que dissestes ser um elfo, e veio me mostrando durante essa semana sua enorme vara de condão encantada, que tal agora se contasses algo que apenas os elfos conhecem?
                - Prometes guardar segredo?
                - Com certeza, ou não me chamo mais Dária!
                Percebendo claramente que em breve ela teria de mudar de nome se levasse a sério a promessa, pois quem diz com certeza, com certeza não tem a mínima idéia do que está fazendo e só disse isso porque foi a primeira resposta que veio à cabeça, o cara dos olhos claros percebeu que aquilo tomava um caminho perigoso, e decidiu finalmente parar de vê-la. Mas antes resolveu testá-la, lançando-lhe uma proposta:
                - Se eu contar o maior segredo dos elfos, nunca mais nos veremos, e você deverá escutar minhas palavras sem jamais repeti-las pelo resto de sua vida! Ainda queres saber mesmo assim?
                - Com certeza!
                - Pois bem, a origem do poder dos elfos vem de conseguirmos ouvir a música que rege as nuvens! Basta se concentrar e prestar bastante atenção, mas na verdade sem prestar muita atenção de verdade. Percebeu a intenção?
                - Com certeza!
                Enquanto ia embora aliviado por ter conseguido deixá-la tão facilmente, não percebeu que Dária olhava-o pelas costas, já sabendo perfeitamente que ele não era a pessoa de quem dizia se tratar, mas que sem querer tinha revelado à ela algo que apenas ele imaginava uma asneira, simples tolice para enganar mulheres tolas. Mas na verdade, o que ele revelara tratava-se realmente de um dos maiores segredos, não só dos elfos como de todos os outros seres mágicos e poderosos, invisíveis aos meros mortais.
                Ela então olhou para o céu e naquele instante, no momento exato em que uma nuvem rosada transformava-se, assumindo a forma de uma bela princesa, ela começou a escutar a melodia mais doce de toda sua vida, vinda sabe-se lá como de algum lugar do espaço acima de nossas cabeças.  

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