segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Nunca Mais Romance

        Toda vez que ele falava com ela, sentia-se bem. Ouvir sua voz era como tomar tranquilizantes ou fumar um baseado, tão calmo e feliz ficava nestes momentos. Gostava da sua presença, gostava do perfume que seu corpo exalava e que ele vez em quando sentia inesperadamente, como se ela houvesse acabado de passar por ele. Olhava então em volta, entre as pessoas que o cercavam, e não a encontrava.  Fechava os olhos e tentava recontituir mentalmente os seus traços e o seu gesto, como se assim pudesse tê-la novamente ali ao lado.
Logo quando se conheceram, tentava disfarçar sua felicidade para não espantá-la, e só ele sabia o quanto isso era difícil. O quanto era difícil estar com ela em qualquer lugar e não se comportar como um pateta na frente dos outros, pois o que queria mesmo era estar sozinho com ela e beijá-la sempre, correr a mão pelo seu corpo enquanto tirava sua roupa, pois tão doce quanto aquela boca era o corpo maravilhoso, a pele macia e suave ao toque, o gosto de coisa boa que deixava na boca, como fruta madura ou água fresca.
A convivência era a coisa mais fácil do mundo. Até quando irritavam um ao outro percebiam o quanto se gostavam, pois em questão de minutos, ainda com raiva talvez, buscavam desesperadamente o sexo um do outro, e parecia que a paixão os faria enlouquecer, e durante horas seguidas descobriam cada palmo do corpo um do outro.
Só que o tempo foi passando e as coisas começaram a ficar estranhas. Já não era possível se falarem todo dia, estudo, trabalho, cursos, essas coisas que fazem parte da vida de todo mundo, mas que nunca foi motivo que atrapalhasse seriamente o relacionamento de ninguém.
O problema logicamente só podia ser outro, mas isso nunca é possível de saber enquanto se está vivendo no meio do turbilhão, e a gente acaba atacando o problema pelo lado errado, o que em breve torna-se novo problema, que junto aos outros eles iam acumulando.
Podia ser o tempo em que já estavam juntos, mas aquela chama do começo rapidamente se apagava. Quando deram-se conta, notaram que embora sua estória fosse sua estória, com todos os altos e baixos por que passam duas pessoas, não teriam mais um futuro juntos.
Ela já pensava em outros caras, colegas da faculdade, do trabalho, imaginava como seria transar com este ou aquele. Ele, ao invés de apenas pensar em outras mulheres, encontrava-se e com elas transava de fato, dando qualquer desculpa para traí-la sempre que surgia oportunidade, sem ver nada de mal nisso.
Talvez aí estivesse o erro. Talvez não. Como pode um sentimento acabar ou se modificar, até tornar-se apenas sombra do que foi? A culpa não era de nenhum deles, a vida simplesmente é assim, as pessoas que vieram da mesma forma podem partir. E quem sabe um dia voltar.

Um comentário:

  1. É deveras triste, como as coisas passam de boas a ruins em questão de centésimos. O tempo é o mais cruel de todos os exatores, que como castigo vai apagando o encanto, a beleza e quando muito, nos deixa uma saudade doida que vai nos matando dia apos dia... Mas, o que fazer? Talves sejam essas as unicas coisas que nos difiram dos irracionais.

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