quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Pássaros Sob o Sol

          Mais um dia sem chuva. Outra tarde em que seria possível assistir os pássaros caindo esturricados das mangueiras, devido ao  famoso sol equatorial, só que sem a não menos famosa chuva das duas, ou das três, quatro, uma, etc.
- Calor do caralho, né Badigo?
- Cala a boca e passa a bola Romário...
- Peraí que eu ainda não fumei!
- Cabeçudo!
A tarde estava mesmo muito quente, então aqueles dois rapazes estavam apenas sentados ali pelos bancos, observando o movimento sob a sombra de uma mangueira, enquanto acendiam um baseado.
- Olha só aquele ali!
Um passarinho verde, completamente esturricado, acabava de cair no cimento, estalando e se partindo feito um galho seco. O céu não tinha nenhuma nuvem, a única coisa que se podia ver eram alguns urubus que voavam muito alto, tanto que eram indistinguíveis à distância, semelhando pontinhos pretos numa tela azul. A fumaça que tragavam ajudava a eliminar o último traço de saliva que ainda tinham na boca:
- Pô Badigo! Apaga aí cara, que lá vem vindo os cana!
- Fudeu!
- Adianta apagar não que eu já filmei vocês fumando!
Vieram os três ao mesmo tempo. Estavam a mais de meia hora escondidos, de olho em Badigo e Romário, esperando que os dois bolassem, acendessem e fumassem até a metade, para aí sim poderem dar o flagrante.
- Aí, meu camarada, livra a nossa cara que a gente tinha só esse baseadinho...
- Lá eu sou por acaso camarada de vagabundo? Cala tua boca e afasta as pernas que eu vou te revistar!
- O Badigo tá falando a verdade, essa birra foi eu quem trouxe...
- E o bonitinho ainda tem coragem de confessar! Não quero nem saber, vão os dois pra delegacia nem que seja para assinar a posse de substância entorpecente!
Não teve acordo, e enquanto eles eram conduzidos pelos PMs para a viatura, começava finalmente a descer um chuvisco sobre a cidade, o que não evitou que caíssem mais dois passarinhos esturricados de uma árvore próxima.

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