domingo, 25 de setembro de 2011

A Ilha Dos Zumbis

       Depois que seu pai morreu, não suportando a dor enorme da perda, foi procurar a solução onde ela existe em abundância: na internet. Vasculhou a rede durante minutos que pareceram horas, até que finalmente, três vídeos pornôs  no YouTube e uma masturbação depois, encontrou o que procurava. Uma comunidade de pessoas que cultivavam os segredos da necromancia.
Após cadastrar seu celular e o número do cartão de crédito, conseguiu o endereço de um cara que se apresentou simplesmente como Orfeu, quando chegou à casa dele:
-Trouxe o que eu pedi?
Entregou o embrulho que trazia consigo àquela figura sinistra, todo vestido de preto, embora fizesse um calor danado ali dentro. Tinha as faces chupadas e olheiras profundas, além da magreza de quem não vinha se alimentando bem nos últimos trinta anos. Orfeu examinou as duas garrafas de cachaça, a farofa e a galinha bem gorda, fez um gesto neutro com os ombros à vista daquilo que havia pedido, depois guardou tudo numa geladeira que ficava no mesmo aposento.
Perguntou então novamente aquilo que já sabia, quandos dias havia morrido, se tinham cimentado a lápide, se ele tinha estômago forte, etc, e finalmemente contou o que iriam fazer:
-Meia-noite passas aqui, pois antes do amanhecer nós devemos concluir o ritual!
Eles iriam simplesmente desenterrar o caixão e levá-lo até uma das ilhas que circundavam a cidade, onde existira um antigo cemitério indígena, que Orfeu havia descoberto enquanto fazia uma trilha, e que tinha capacidade de trazer os defuntos de volta à vida, bastando para isso enterrar ali o ente querido depois de umas rezas xamânicas, contanto que ainda não hovesse passado sete dias, portanto eles ainda tinham tempo.
O presunto já estava meio estragado e exalava um cheiro desagradável quando retiraram o caixão. Foi por isso que Orfeu despejou sobre ele vários desodorantes sanitários que havia trazido para este fim, pois tinha larga experiência no ofício macabro de desenterrar corpos, da época em que trabalhava como ajudante de coveiro.
Demoraram pouco mais de meia hora durante a travessia de barco, e mais uma hora até finalmente chegarem ao tal cemitério indígena:
-Será que vai dar certo?
-Não se preocupe, ainda temos bastante tempo...
Aquela era a segunda vez que cavavam àquela madrugada, e assim que tudo ficou pronto fizeram as conjurações necessárias, tiradas de um romance sobrenatural que Orfeu havia lido na adolescência. Acomodaram ali o defunto e novamente jogaram terra por cima dele.
Foi a vez de Orfeu tirar da mochila o que vinha trazendo com todo cuidado: as duas garrafas de cachaça, a farofa e a galinha, e começou a juntar uns paus pelo chão:
-Para que serve isso?
-Pra fazer o fogo, não tá vendo? Cata isso aqui que eu vou preparar um espeto...
E logo a fumaça subia, e enquanto esperavam assar o frango, tomavam uns bons goles de cachaça, num caneco que o barqueiro trouxera pendurado no pescoço, feito um colar exótico, típico adereço de biriteiros.
E quando finalmente terminaram de comer e de beber, e se preparavam para ir embora, o rapaz pôde olhar para trás satisfeito, vendo que seu velho ali encontrara um bom lugar para continuar existindo, entre os pássaros que começavam a cantar no meio das árvores, como um milagre da natureza que ele amava tanto.

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