terça-feira, 17 de abril de 2012

Resista


 -Chega! Põe esse copo na mesa que você já bebeu demais!
        -Só mais uma dose.
        E continuou até esvaziar a garrafa.
        Completamente bêbado, teve a idéia de sair para comprar mais birita no mercado, mas não conseguia encontrar a chave do cadeado do portão.
        A solução foi pular o muro: se desequilibrou e na queda acabou torcendo o pé, mas não sentiu na hora pois encontrava-se completamente anestesiado pela cachaça.
       Saiu andando pela rua cambaleante, trazia dinheiro suficiente para comprar mais dois litros de aguardente, então voltaria pra casa e continuaria bebendo o restante da tarde; eram esses seus planos para aquele dia de folga.
       Mas depois de dois quarteirões começou a sentir-se mal, uma tontura, deu mais uns passos, encostou-se num muro de um terreno baldio e vomitou, além de um líquido amarelado de bile, o que parecia serem pedaços de sua garganta.
        Sentia agora uma moleza. Foi escorregando até o chão, inclinou a cabeça sobre o peito e começou a viajar de olhos fechados em pensamentos alcoolizados absurdos  :
        "Impressionante. Parece que hoje em dia todo mundo toma drogas ou 'alguma coisinha' para suportar o dia-a-dia! Mas com certeza não sou viciado, quero dizer, isso que eu bebo não é droga, não! Vende em qualquer lugar e não precisa de receita,além do quê dizem que é um produto natural..."
        E bebendo continuou a se enganar.
        Seu organismo aos poucos foi falhando, até que depois de um tempo o sofrimento finalmente acabava: deitado num corredor de hospital público, há três dias sem receber o mínimo atendimento, morria a criatura de cirrose hepática.

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