terça-feira, 24 de abril de 2012

Meu Grande Amigo




        Estrôncio é o nome de um elemento químico da tabela periódica, e sabe-se lá por quê, era também o apelido dum figura que eu conhecia.
        Um certo dia ele passou do meu lado no corredor, e eu sem mais aquela, só fiz peguntar:
        -E aí, seu Estrôncio, como vai essa vida?
        -Chega um instante, deixa eu te contar...
        E me segurou pelo praço e começou a desfilar um ladainha tão chata, que me deu vontade que ele tivesse um colapso cardíaco ou qualquer coisa que o matasse instantaneamente e largasse do meu braço.
        Eu lá escutando do custo de vida, do preço do aluguel, do choro das crianças, das reclamações da mulher, das cobranças, de tudo; já achando que aquele merda era o último dos caras do mundo e um tremendo filhadaputa por me segurar daquele jeito, me fazendo ainda por cima perder tempo, mas foi quando ele começou a falar umas coisas que eu nunca tinha escutado antes:
        -Mas agora fora isso, o mais importante é...
        Falando então do que era realmemte importante em sua vida, de onde tirava forças para recomeçar cada dia melhor que o anterior, era como se houvesse um plano traçado em sua mente do começo ao fim, restava apenas continuar a executá-lo.
        Sua existência naquele exato momento era bem diferente de seus sonhos, e mesmo assim ele perseverava.
        Se ia dar errado, ele não podia saber, mas pelo menos continuava tentando, depois vendo minha agonia encerrou o papo com uma frase que não entendi bem:
        -Fique peixe, fique cru, estamos neste planeta agora.
        Aí pensei: "Puta cara esse Estrôncio, quer dizer...".
        Ia parar de ser safado com ele, então toda vez que a gente se encontrava passei a cumprimentá-lo pelo nome próprio.

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