domingo, 11 de setembro de 2011

Você está Bêbado?



            Um dos melhores caras que conheço para sair  é o Jardel, toma todas e não esquenta se é cerveja ou cachaça, além do que come qualquer coisa e fuma mais do que ajudante de pajé. Pois resolvemos sair e beber naquele bar que fica lá atrás do bosque, aproveitando o feriado de semana prolongado.
            - Desce mais uma gelada aqui na mesa, seu Gervásio!
            Além de bem gelada, a cerveja ali cabia no bolso, ainda mais porque a gente só andava duro por aí, final do mês era tomando buchudinha e tirando o gosto com  manga verde e sal.
            Papo bacana, o Jardel estava contando de quando escapou de ser assaltado porque saiu correndo na frente, na vez em que ele e o Wálter tinham saído juntos para curtir de penetras numa festa de quinze anos:
            - Aí quando eu vejo lá vem o Wálter descalço, sem camisa, mas com os dois convites que a gente tinha feito na casa dele no bolso! Quá, quiá, quiá, quá, quá, quá, quá...
            Já tínhamos tomados umas quantas, já estava na hora de pedir a saideira, quando chegaram dois monumentos à beleza feminina, que se sentaram numa mesa um pouco afastada e pediram uma cerveja.
            - Saca só as duas gatas que sentaram ali!
            - Realmente, vou tomar essa saideira só olhando pra elas...
            - Por que tu não vais conhecer uma delas e depois vem aqui me apresentar a outra?
            - Pô Jardel! Já que a idéia foi tua, por que tu não vais lá?
            - OK!
            Outra das características marcantes do Jardel era sua enorme cara-de-pau, pois quando eu vi, ele já tinha ido até a mesa delas, com o copo de cerveja pela metade numa mão e um Hollywood na outra.  Sem alternativa, levantei da mesa e fui me esconder no banheiro, aproveitando para dar uma mijada. Mas quando saí, vi que meu camarada não estava na nossa mesa, mas sentado e conversando com aquelas duas moças, inclusive até com o braço em volta da cintura de uma delas, e que não paravam de rir, como se ele estivesse contando piadas ou coisas do tipo.
            Depois que sentei, ficou explicado o porquê de tanta intimidade do Jardel com aquela menina: eles tinham tido um rolo curto, mas muito intenso durante o segundo grau, fazia mais de dez anos que não se viam e estavam se achando muito mudados. De acordo com Raíssa, seu ex-paquera tinha envelhecido muito, o que era óbvio depois de tanto tempo, e parecia ainda mais magro, só que tinha um olhar diferente.
            - E tu ficaste muito gostosa!
            E incrivelmente as duas começavam a rir; e não era possível de estarem bêbadas com apenas três cervejas. Talvez ele tivesse colocado alguma coisa na bebida delas, embora tivesse jurado pra mim que nunca mais ia fazer aquilo. Era uma situação tão estranha, que a moça do meu lado não parava de ficar me olhando. Mas por sorte o Jardel foi logo explicando:
            - E essa daí é a Mila, prima dela, que se eu fosse tu agarrava logo! Ha, ha, ha, ha, ha, ha.
            A parte boa de sair com meu camarada era o fato dele ser um cara-de-pau, mas essa era a parte ruim também:
            - Desculpa meu amigo, porque ele eu acredito que deve estar bêbado, e ele fala muita bobagem quando enche a caveira.
            - Pois sabe que eu acho que ele tem razão?
            Olhei pela primeira vez diretamente nos olhos verdes e brilhantes dela, coisa que ainda não tinha conseguido fazer desde que começara aquela conversa. E esta cor irreal de íris foi a que eu passei a relacionar dali para frente àquele tipo de garota. Que parece caminhar por entre os mortais como se pudesse dar algum alívio momentâneo às suas vidas restritas e amarguradas, devido quem sabe a uma enorme bondade interior ou talvez a certo tipo de incomunicável delicadeza.

Um comentário:

  1. Oi Augusto! Gostei muito do texto, de certa forma encaixou no meu domingo, acredita?

    Estes textos, você quem os produz? Achei todos maravilhosos! :D

    Beijos!
    http://pronomeinterrogativo.blogspot.com

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