sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Apenas Um Jogo

     
        Toda vez que alguém me convidava pra fazer alguma merda, noventa por cento das vezes era o Jairo, e dessas, metade acabava com a gente ou na delegacia ou no hospital. Por que eu ainda saía com ele? Bem, ele tinha uma irmã gostosa, que infelizmente nunca olhou pra mim.
        Naquele dia ele apareceu em casa com os convites de uma festa de quinze anos, disse que era birita e rango à vontade, punha uma roupa maneira e em menos de uma hora a gente estaria lá.
        Na frente da casa de recepção veio a surpresa:
        -Faz cara de que conhece a aniversariante, deve ser aquela ali.
        -Peraí, tú não sabes quem é  a figura?
        -Relaxa! Pelo menos conheço o brother que me emprestou o convite pra escanear.
        -O quê, isso aqui é falso?
        -Fica frio! Foi o Badigo que me emprestou o convite e eu acho que ele foi convidado, é parente dele, sei lá, ele não ia pegar o convite de ninguém...
        -Pôrra, Jairo!
        Já não tinha mais jeito, a gente tinha se metido numa porcaria de fila pros cumprimentos. Fiz uma cara de cú quando a aniversariante perguntou "Eu te conheço?":
        -Sou amigo do teu primo Badigo.
        -Eu não tenho nenhum primo com esse nome.
        -É porque esse é o apelido dele.
        E fui entrando enquanto iam chegando outros convidados, o que deixou a menina em dúvida se chamava a segurança ou ficava recebendo os parabéns, enquanto o Jairo tinha encontrado o felizardo Badigo sentado sozinho numa mesa, com uma garrafa de uísque do bom e um monte de petiscos:
        -Êh, rapá, adivinha só: o badigo também falsificou a entrada dele!
        -Não me diga! E como foi pra conseguir uma garrafa de birita só pra ti?
        -Dei vinte paus pro garçom e prometi mais vinte no fim da festa, mas é claro que a essa altura vou estar longe daqui, pois tenho outra festa pra ir hoje...
        -É mesmo? Imprimiste outro convite?
        -Não, pra essa eu fui convidado mesmo. Aliás, bebe devagar que eu disse que ia levar uma garrafa de bebida.
        -Mas essa tá quase pela metade!
        -Eu não disse que ia levar cheia...
        Parecia que os dois disputavam quem era o mais cara-de-pau, e se fosse esporte olímpico eles certamente levariam a medalha de ouro, depois de meter um conto no cara que fosse primeiro lugar.
        Acontece que não éramos os primeiros penetras numa festa e nem seríamos os últimos.
        E talvez por esse motivo, ou por ser a mesa mais mal-educada, esfomeada e cachaceira do lugar, e que possivelmente acabaria com  os tira-gostos e a birita servida em doses racionadas pros "adultos", um bando de babacas que se orgulhavam de serem os únicos naquela bosta a não precisar tomar álcool em copinhos de plástico, disfarçado como refrigerante, como o resto da molecada. Então a bela aniversariante apontou nossa mesa prum cara sem pescoço metido num terno, dizendo: "São aquela gente ali!(sic)"
        -Putz! Acho que sujou galera, vão expulsar a gente.
        -Relaxa e põe a garrafa debaixo da mesa.
        -Pô Jairo, tô falando sério.
        -Não esquenta a cabeça e faz o que ele te disse...
        Os dois eram foda mesmo, muito antes deu ver já tinham sacado todo esquema.
        Além de planejarem a nossa fuga pela cozinha com o auxílio do garçom, que àquela altura tinha virado nosso amigo, ainda deram um jeito de levar uma garrafa de uísque lacrada além daquela que estava pela metade, pruma outra festa do outro lado da cidade que durou até o amanhecer, e que essa sim certamente daria uma boa estória.

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