sábado, 22 de outubro de 2011

Nunca Espere Raio De Sol

       A atmosfera terrestre continuava a transformar-se em vidro, uma barreira que crescia rapidamente e em breve confinaria todos os seres vivos da terra numa sepultura translúcida.
       Aparentemente o ar começara a transmutar-se em vidro de alta resistência na China, como resultado de uma tentativa dos chineses de obter o produto a preço vil, ao invés de arcar com os altos custos da matéria-prima no mercado internacional, obviamente controlado pelos norte-americanos com a intenção de prejudicá-los.
       A reação química finalmente dera certo após anos de pesquisa. Durante alguns momentos os cientistas envolvidos no projeto imaginaram que agora estavam ricos e poderiam realizar seu sonho de viver no Brasil.
       Acontece que o processo depois de iniciado era irreversível e também impossível de ser controlado. Após alguns segundos o laboratório, o andar, o prédio, o quarteirão todo era surpreendido pela cor azulada que se propagava rapidamente e solidificava-se em milésimos de segundo, congelando as pessoas instantaneamente, surpreendendo-as imobilizadas por toda eternidade.
       Quando souberam do fenômeno na internet, logo confirmado por todos os veículos de mídia, Chico e  Rosa correram a se encontrar no lugar de sempre:
       -Quanto tempo nós temos?
       -Com a velocidade que dizem que está avançando, uns poucos minutos.
       -E o que vai ser agora? Por que foi acontecer isso comigo, me diz!
       -Pelo jeito com você e com o restante da humanidade. Com sorte ainda sobra algum astronauta sortudo de tôca lá no espaço sideral.
       -Pára de brincadeira, tú estás me assustando...
       -Realmente isso tudo é inacreditável mas é verdade. É como estar presenciando o juízo final, a extinção da História, a cessação da vida e de tudo. Mas de alguma forma eu vejo que afinal não tive a capacidade de entender a grandeza de tudo isso, e agora não adianta mais nada porque é óbvio que a morte se aproxima no segundo seguinte.
       -Não! Eu não quero, isso é injusto! O quê eu tenho de haver com o resto do mundo?
       -Realmente, a única coisa que eu sei dos Chineses é que eles inventaram o miojo, talvez nem isso. Mas eu queria te dizer que fostes a primeira pessoa para quem eu pensei em ligar, depois que vi o noticiário.
       -Ai, Chico, o que vai acontecer agora? Me dá um abraço.
       -Vem cá, Rosita, deixa eu olhar bem pra você pela última vez...
       Uma espécie de luz imperceptível, a não ser por uma certa tonalidade de um azul etéreo, como que penetrando na essência das coisas, envolveu-os, e Chico imaginou se a cor derradeira, ao invés de estar vindo de um lugar distante, estivesse saindo por descuido de onde sempre estivera a ocultar-se: por dentro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário