quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Conto Erótico

"Esse papo meu tá qualquer coisa e você tá pra lá de Teerã..."
"Listen to the music playing in your head..."

        Estou sentado tomando uma cerveja, olhando pro movimento da rua naquele fim de tarde, quando ela se aproxima:
        -Tens fogo?
        -Deixa que eu acendo pra você.
        Colocou o cigarro de filtro vermelho nos lábios delicadamente desenhados, justamente o que eu costumava fumar, deu uma tragada, assoprou a fumaça pro lado e me ofereceu o maço:
        -Não, obrigado. Estou parado por enquanto.
        -Por que andas com isqueiro então?
        -Para acender o cigarro de mulheres bonitas como você...
        -Ha ha ha ha ha ha ha ha! Estás esperando alguém?
        Balancei com a cabeça que não e ela sentou-se. Não só entendeu que aquela piada de mau gosto eu disse de propósito, pois assim poderia saber se tinha ou não sido julgado feito um roto qualquer, como ao invés de ir embora ela encarou-me, vendo algo além desta cara suja e destas roupas esfarrapadas.(Yellow Submarine)
        -Ainda não me explicaste o porquê do isqueiro! Por acaso fostes escoteiro ou és algum tipo de maníaco incendiário?
        -Deixa eu te mostrar para quê eu preciso do fogo.
        Tirei do bolso da frente da calça o tubo onde eu guardava meus charutos, puxei um Havana que tinha fumado só até metade, acendi. Duas ou três pitadas e o cheiro agradável da erva espalhou-se pelo ar, relaxante, inebriante, adocicado:
        -Deixa eu provar?(Here, There and Everywhere)
                                                  ...
        Os olhinhos dela brilharam ao segurá-lo nas mãos. Assim que pôs na boca deu uma chupada prolongada, então vi sua expressão mudar-se em êxtase:
        -Nossa, que gostoso!
        -Você engoliu?
        -Não era pra engolir?
        -Claro que era, assim você sente bem o gosto...
        -Assim vou é me viciar. Posso vir sempre?(Eleanor Rigby)
        No rádio Jorge Ben mandava o Taj Mahal. Eram cinco da tarde e a luz tinha aquele tom amarelado que transforma os objetos em ouro. Perguntou e veio subindo, depois me segurou atrás do pescoço e me mordeu no queixo, beijou-me a boca.(She Said, She Said)
        Falei que provavelmente ela nunca mais voltaria. Assim que descesse as escadas e fosse embora, esqueceria da minha existência de vez, guardaria na memória apenas a lembrança idealizada daquele único encontro. Ela disse que não.(Tomorrow Never Knows)
Talvez seja melhor assim. Talvez ela tenha razão e eu não seja o cara certo, e com certeza não sou o cara que ela pensa que sou, mas Cristo! Na verdade não faço a mínima idéia do que ela está pensando.(Love You To)
Só que dessa vez algo me disse que não pára por aí. Você já conheceu alguém assim, só que ficou sem saber se valia a pena entrar num relacionamento íntimo. E vai por mim, você sempre vai se decepcionar, pessoas são pessoas.(For No One)
Dela é a decisão. Quem sabe considere todos os riscos e não queira se envolver, mas além de tudo, se lembre que a vida está aí, e às vezes a gente tem que correr o risco.(And Your Bird Can Sing)

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