quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Aventura No Mundo Interior

(...)
        -Quando sonharia em conhecer cada pedacinho deste lugar que achava fosse mentira, onde talvez há anos ninguém pise, isso não é incrível?
        -Foi pra isso que viemos. Aliás, obrigado por me acompanhar...
        A relativa facilidade que tivemos para chegar até ali, uma série de coincidências que facilitaram a maior parte do trabalho, desde aquele domingo distante em que pegamos as nossas coisas e saímos de casa.
        A moça da lanchonete onde primeiro paramos e que tinha ouvido falar de estórias do local, ensinando a direção; o motorista da carreta que durante dois dias dera-lhes carona; a trilha oculta no meio da mata descoberta por acaso, que eles nunca encontrariam se Hermes não tivesse parado lá para urinar; a praia deserta e a casinha de ripas de que ambos se lembravam, como um delírio compartilhado da infância; onde haviam parado e agora preparavam alguma coisa para comer:
        -Sabe Lúcia? Deve faltar apenas um ou dois dias naquela direção e a gente chega lá.
        -Tens certeza?
        -Faz muito tempo, eu não sei como, mas veja só: a sensação que tenho é de já ter estado aqui. Eu era muito criança, então as lembranças estão meio apagadas, mas tenho certeza de que o caminho é pra lá...
        No dia seguinte Lúcia ficou estarrecida com o espetáculo que descortinava-se à sua frente: A beleza do sol nascente, um gigantesco globo amarelo, mais próximo da Terra do que nunca estivera para qualquer outra pessoa, somado à exuberância da vegetação rendilhando a margem e o contraste entre o mangue e a brancura inóspita da praia, fê-la imaginar por alguns segundos que não mais habitava neste planeta, como se aquela missão na verdade fosse encontrar um caminho possível até o mundo desconhecido, onde há muito ninguém ia e de onde haviam sumido os últimos vestígios da presença humana, exceto pela casinhola onde passaram a noite:
        -Bom dia, Hermes! Olha só que lindo!
        -Bom dia, Lu. Estás acordada há quanto tempo?
        Ela estava maravilhosa àquela manhã. O corpo bronzeado e firme, coberto de gotinhas que faiscavam e corriam por sua pele até caírem como brilhantes na areia limpa. O vento refrescante a secar-lhe os cabelos e a felicidade que em seus olhos transbordava, tornando aquele momento num misto de sonho e fantasia:  
        -Levantei com esta luz impressionante e fui me jogar na água! Não é espantoso existir um lugar como este?
        -Creio que sim, não lembro de ter visto nada igual! Mas vamos andando, antes que comece  a esquentar...
        Arrumaram suas coisas e foram seguindo na direção combinada, deixando para trás apenas os restos que sobraram da noite que tinham passado ali.
        E muitos anos depois, quem sabe por coincidência ou destino, quando outras duas pessoas redescobriram aquele mesmo caminho, apenas o telhado de sapê ainda permanecia de pé.

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