quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Tudo Pode Virar

        Escrevo no final da tarde, enquanto faço uma das coisas de que mais gosto quando estou sozinho: admirar o pôr-do-sol. As nuvens tomando forma ao sabor do vento, renovando-se sempre, alterando o modo de entender esse fenômeno corriqueiro e por isso mesmo sem valor algum, como se no fundo compreender as coisas comuns não significasse desistir das maiores.
        Via o fluir  das cores refletidas na atmosfera pelo sol poente, todos os tons: do verde ao azul, do amarelo ao vermelho, laranja, roxo, rosa, harmonizando-se incrivelmente em volta do disco alaranjado; e se aparece a primeira estrela, na verdade um planeta, alguém vai pensar que foi a tristeza desta Terra tão antiga que se fez lágrima e solidificou no éter.
        "(...)Deus me deu este coração e a vida não me ensinou o que fazer com ele. A última réstia de luz acabou de sumir. Foi embora a música e nada sobra neste mundo silencioso e vazio."
        O que antes era um fim em si, depois transformou-se no meio para alcançar outro fim supostamente maior, que era viver essa felicidade tão bonita pelo menos enquanto durasse.   Enquanto você esteve ao meu lado, só isso importava e minha vida estava completa, eu ria para as paredes. Mas veio a desgraça:
        -O que estás pensando? Por que queres saber?
        -Talvez você tenha mudado.
        Um dia descobri em uma folha avulsa seu sonho de menina: casar com um príncipe encantado, ter uma família maravilhosa com dois lindos filhos, morar numa casa no campo e viajar todo ano pro litoral.
        Agora não sabe dizer se ainda quer tanto isso, se o modelo de felicidade da infância desmoronou frente à realidade.
        Diz que não é mais prioridade casar e parir custe o que custar. Quer primeiro concluir o curso na faculdade e começar uma carreira na área. Ainda quer viajar sim e muito, pelo mundo inteiro, mas sozinha ou com algum amante e unicamente para curtir, não carregada de responsabilidades e com um monte de malas.
        E quanto ao cara certo, não é mais tão importante quanto era antes se no fim das contas ela nunca chegar a conhecer o cara perfeito. Mas também não dá o braço a torcer quando digo que ela vai acabar abandonando todos seus antigos sonhos:
        -Que antigo sonho? Pode me chamar de egoísta, mas não vou deixar de fazer tudo que eu quero e passar vinte anos da minha vida dando atenção, amor e carinho para quem no fim das contas, quando não precisar de mim mais pra nada, vai me pagar com a ingratidão!
        -O fim de quem ama...
        Eu sei que não é possível concordar com nada disso, e você tem razão. Sua vida é outra, suas experiências e então seus pensamentos são outros, o que não significa neste caso que um de nós esteja certo ou errado, embora eu acredite que você tenha razão sempre.

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