quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Vagamente Alguma Coisa

        Sentados na grama: o Chuky abraçado na 51, o Sonca bolando um pastel na maciota, o Glauber falando sem parar com o Bispo travadão, eu olhando pra todos os lados com o cú na mão, morrendo de medo da polícia chegar e dar o flagrante.
        Era sujeira bolar ali, mas foda-se, era domingo e tinha gente pra caralho circulando na praça, por todos os cantos o cheiro da erva exalava no ar, em plenas três da tarde.
        Dezenas de moleques desocupados, em grupos espalhados pela grama ou sentados no coreto, tomavam vodka com refrigerante e fumavam aquela merda de derby prata que quase não solta fumaça e a gente tem que acender um atrás do outro.
        Nesse dia o Marofa estava quieto, trepado no corrimão da escada do Monumento, com uma garrafa pela de Cantina das Trevas pela metade no colo, olhando pro vazio, fumando e ouvindo metal no celular, o que não pareceu bom sinal. Cheguei perto e perguntei o que havia, ele me olhou e disse:
        -Senta aí...
        Da primeira vez que falei com ele, achei que não tinha ido com a minha cara, e não foi mesmo.
        Acontece que era assim que ele tratava todo mundo, sempre com aquele jeito meio brabo e um humor agressivo, que no começo causou-me certa antipatia.
        A conversa foi um tanto esquisita. o Marofa comentou o movimento àquela hora de pessoas fumando maconha e bebendo, como se todo mundo houvesse enlouquecido. De como era difícil pra ele frequentar o mesmo lugar todo fim de semana por não ter mais para onde ir, que era tudo um saco, pois achava o país uma sacanagem, política, religião, futebol, e falou mais um monte de coisas que não prestei atenção, aquilo realmente era um saco, até que enfim calou-se.
         Tentei ser amistoso e comentei alguma merda do tipo: "É por isso que eu prefiro cachaça, fermentado bate deprê!". Ele olhou pra mim como se quisesse sentar aquela garrafa na minha cabeça, mas era de plástico, a garrafa, não minha cabeça, então apenas desenroscou a tampa e tomou outro gole.
         Ficamos um tempão calados. Finalmente tentei ser legal e ofereci um gole da minha birita, que ele recusou, depois fui embora, pensando comigo que afinal não se deve misturar fermentado com destilado na mesma bebedeira.

Nenhum comentário:

Postar um comentário