Joaquim ligou para sua namorada e combinaram de se encontrar no bar de sempre. Quando ele chegou, Adriana já estava na terceira garrafa.
-Foi mal, amor, desculpa a demora, o trânsito é uma merda! Põe um pouco aqui no meu copo.
-Então pede outra enquanto eu vou no banheiro, que essa acabou.
-Garçom!
Quando ela se levantou, os caras da mesa ao lado ficaram olhando descaradamente. Na certa já vinham chavecando a menina há um bom tempo, pela cara de porcos e pelo número de garrafas em cima da mesa:
-Peguei outra dessas que você estava tomando. Viu só o jeito desses figuras aqui atrás olhando pra você?
-Claro! Desde a hora que sentei eles começaram, mas tu achas que vou dar papo pra esses moleques bêbados?
-Por que não disse que estava me esperando?
-Mais fácil dizer que estava esperando um filho, né? Demoraste pra caramba*!
-Foi por causa dum engarrafamento, é que teve um acidente e...
-Sei, sei. Vem cá, eu pensei uma coisa agora no banheiro e queria te falar...
-Ótimo lugar para pensar!
-Escuta. Está acontecendo agora tudo isso com a gente: parece que tens tua vida e não te importas muito comigo, eu contei daquela coisa que aconteceu no mês passado, que soubestes só porque eu te falei, mas mesmo assim, como por exemplo este atraso de hoje, não achas que é difícil da gente continuar se vendo desse jeito?
Joaquim quase caiu da cadeira. Viver continuava difícil como sempre, mas pelo menos conhecer alguém como ela era um alívio da chatice e empulhação a que se é submetido à força diariamente:
-Mas Dri, escuta só:
(Infelizmente nessa hora algo travou sua língua. De todas as razões que poderia imaginar para que ela não o abandonasse, nenhuma delas parcia o mínimo convincente. Na verdade, qualquer argumento que pudesse levantar em seu favor soaria tão miseravelmente egoísta que era capaz dela odiá-lo pelo resto da vida, por sua mesquinhez e pequeneza, por se rebaixar a tal ponto de querer prender uma beleza para si, ao invés de deixá-la levantar vôo e cantar sua felicidade pro mundo, que um passarinho bonito como aquele não foi feito para viver preso numa gaiola.)
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