domingo, 11 de dezembro de 2011

Quem Te Viu

        Estou em casa bicando uma Sapupara, quando toca o interfone:
        -O seu Gualberto está subindo.
        Pelo menos pra isso servia o bosta do porteiro. Se quisessem me matar tenho certeza de que ele ia deixar passar, mas pelo menos avisaria antes.
        Com a porta destrancada, voltei pra cachaça e servi outra dose, puxei um cigarro do maço que botei atrás da orelha e  fiquei batucando na caixa de fósforos enquanto esperava o figura subir.
        Foi entrando e me cumprimentou com toda aquela dignidade:
        -Fala Verme! Cadê o relógio? Saca só o pônei que eu trouxe...
        -Qual é, Capivara, só na manha? Estás a fim de uma dose?
        -Pô, és mesmo um cachaceiro, bebendo nem bem duas horas!
        -Fazer o quê, o domingo é nosso! O que foi que trouxeste aí?
        O Capivara tirou de dentro da mochila um pacote enrolado num saco plástico e começou a  desembrulhá-lo meticulosamente, enquando eu ia no outro cômodo buscar o relógio. Quando voltei ele já tinha terminado de abrir, e exibia em cima da mesa meio tijolo esverdeado, com os restos de fita adesiva e sacos de supermercado jogados no cesto do lado:
        -Cara, essa tá bonita!
        -Faz logo um com esse que eu separei aqui...
        Meia hora depois, o Capivara jogado no sofá e eu deitado na rede, assistíamos a uma espécie de documentário que narrava a estória da vida de jovens suburbanos em países do primeiro mundo, com a cabeça perdida porque as coisas ficaram vazias e carentes de sentido, cuja única ideologia que aceitam agora como verdadeira é  aquela do consumo de bens, drogas e pessoas, e que diz "foda-se a humanidade pois tudo é efêmero e relativo e nada disso tem significado: vista sua máscara e quem for podre que se quebre", também conhecida como ideologia do politicamente correto.

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