sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

As Crônicas do Jaspion: A Batalha da Montanha

       -E foi assim que Lorde Fumanchu, como recompensa aos que sacrificavam à ele, transformou a gabola família Muarte em asnos, condenados a carregar peso e comer mato através dos séculos. Os Magiros foram banidos para o interior da Floresta Negra onde não puderam mais ser vistos desde então, e vocês, meus caros amigos da família dos Refugados, ou simplesmente Grados, foram mandados para o campo e submetidos à todos os outros, onde o constante trabalho agachado com as cebolas fez com que reduzissem de estatura e chorassem às vezes sozinhos, sem qualquer motivo aparente!
        Quando o Sábio da Montanha terminou de falar, a expressão de Gosh e Jaspion era de espanto. Este último perguntou:
        -E quanto ao Livro Ininterrupto?
        -Bem, dizem que o Livro vem sido escrito de forma mágica há séculos, e quando finalmente estivesse pronto, seria usado para trazer de volta a Sacerdotisa Pasárgada e livrar o povo da maldição do Senhor dos Abismos! E como foram vocês que o encontraram, terão agora de compreendê-lo e lutar até o fim para impedir que as trevas prevaleçam!
        Jaspion não sabia se estava preparado para tamanha responsabilidade.
        Incapaz de encontrar dentro de si algo que o tornasse melhor do que qualquer outro de seu povo, não compreendia como a Deusa Onion escolhera-o para conduzir o destino da Terra Alta para longe das garras do mal.
        Mas algo em seu coração acendeu-se como uma luz já quase esquecida que carregava dentro de si, ao ver seu grande amigo Gosh encolhido apavorado num canto, percebendo que ele chorava baixinho, como se estivesse a cortar cebolas:
        -Não se preocupe, Gosh, havemos de conseguir...
        Nesse momento escutaram batidas fortíssimas na porta, como se quisessem derrubá-la à coices:
        -Abram! Sabemos que estão aí e queremos o Livro! Caso contrário queimaremos vocês vivos!
        Eram os Muares, que já tendo vendido sua alma, pretendiam agora destruir a única forma de quebrar a maldição. Carregavam archotes e tinham as faces deformadas pelo ódio e loucura disseminadas por Lorde Fumanchu.
        -Depressa os dois! Fujam pela porta dos fundos e vão em direção ao Altar dos Sacrifícios na Casa de Noca! Chegando lá, digam em voz alta as palavras mágicas do livro para trazer de volta a Sacerdotisa, como está na profecia! Não posso mais ajudá-los, ficarei aqui e tentarei segurá-los o quanto puder, então corram!
        -Mas não conhecemos a língua dos Magiros...
        -Depressa, antes que seja tarde demais!
        Os dois desceram pelo outro lado da montanha, enquanto lá no alto desenrolava-se a batalha que poria fim à vida do Sábio, mas não em sua fé naqueles dois jovens aparentemente fracos e inaptos para a enorme tarefa que deveriam executar, mas que possuíam a qualidade suprema com que a Deusa Onion havia-os dotado, tornando-os capazes do gesto mais heróico de suas vidas: a Esperança.
        A Casa de Noca encontrava-se vazia. Jaspion subiu no Altar dos Sacrifícios, enquanto Gosh mantinha o Livro Interminável aberto, mas nenhum deles sabia em que página estariam as palavras que deveriam ser proferidas e poriam fim à maldição:
        -Ocus pocus sim salabim!
        -Jabaculê cascatíssimo prepotente!
        -Mentecapto pústula asquelminto!
        -Que droga Gosh, não consigo entender nada disso! O que faremos agora?
        Só que o amigo caiu fulminado e não teve tempo de responder, pois nesse instante, em meio à uma nuvem de enxofre fedorento, adentrava a Casa de Noca o Senhor dos Abismos das Trevas, Lorde Fumanchu:
        (Continua)

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