terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Ponto a Ponto

        Os dois atravessaram o estacionamento e entraram num sedã preto:
        -Lembra da gente naquela cidade com a garota do circo, que levamos junto com a loura do bar onde você deu uns tiros na caixa registradora só de sacanagem, depois que a gente levou todo o dinheiro. Outros tempos, a gente ainda não fazia parte do esquema, mas pelo menos era mais divertido do que agora.
        Mike Limb escutava em silêncio. Quando Spif calou, fez um movimento com a mão por cima do ventre e segurou o cabo da arma:
        -Está pensando em desistir agora?
        Spif ficou nervoso. Um filete de suor escorreu-lhe pela têmpora. Sua pistola estava dentro do porta-luvas e não poderia tirá-la, agora que Mike era o carona:
        -Ora, vamos, sei muito bem que temos um acordo, disse Spif tentando recuperar a tranquilidade, as mãos tremendo enquanto dava a partida no carro.
        Os dois saíram do estacionamento onde costumavam se encontrar e seguiram em direção à rodovia interestadual. O relógio no painel marcava meia-noite.
        Passaram por várias cidades até entrarem num ramal sem identificação à direita. Continuaram por uma hora, então chegaram numa curva que terminava num ramal estreito, feito de lama e terra vermelha, ladeado pela mata fechada da qual era possível ver apenas os contornos sombrios.
        Pararam numa casinha de alvenaria no centro de um terreno coberto de mato. Spif estacionou de frente para a entrada, iluminando-a para que Mike visse a fechadura. Quando este conseguiu destrancá-la, desligou o motor e tudo voltou ao mais perfeito silêncio:
        -Não fique aí fora, vamos entrando, disse Mike Limb.
        -E o Juarez?
        -Entra logo, que já-já ele deve estar chegando.
        -Espera aí cara, eu esqueci um negócio no carro...
        -Entra logo.
        Spif acendeu um cigarro e olhou o relógio de pulso: quatro da madrugada.
        Lá dentro havia apenas uma mesa e duas cadeiras de madeira em estado lastimável, um colchão velho e algumas roupas encardidas penduradas em dois  ganchos na parede, além de uma prateleira com objetos empoeirados. O chão parecia de terra batida tamanha quantidade de areia e sujeira.
        Mike Limb sentou-se na cadeira e deixou sua arma em cima da mesa, piscando o olho para que Spif sentasse do outro lado:
        -Relaxa, camarada! Eu vi que você esqueceu a pistola no porta-luvas, não foi? Mas não tem com o que se preocupar, eu só vou fazer umas perguntinhas... Primeiro: por que no dia do roubo com o pessoal do Mata-Gato, o Juarez deixou você e o Ruivo dando cobertura e salvou uma parte da grana, mas quando a polícia entrou, não conseguiram te pegar?
        -Eu fugi antes deles entrarem, Mike!
        -Sei, sei... Só que deu no jornal que quando eles chegaram o Ruivo já estava morto, e tinha sido execução à queima-roupa.
        -Claro! Mas se foram eles mesmos que mataram! Quero dizer, com certeza foram. Qual é, Mike, vais acreditar na palavra dos tiras? Já falei o que aconteceu, eu pulei a janela, mas parece que não deu tempo do Ruivo fazer o mesmo. Só não entendi por que atiraram na cabeça dele. Mas cadê o Juarez? Eu acho melhor ligar pra não levar um furo desse desgraçado!
        -Realmente, você deve estar preocupado em não tomar furos, não é mesmo?
        Spif torcia as mãos por debaixo da mesa, temendo que o outro fosse dar cabo de sua vida ali mesmo. Se ao menos tivesse guardado sua arma na cintura antes de Mike Limb entrar no carro, aquele seria o momento de atirar.
        Foi então que teve uma idéia:
        -Cara, e se eu te der toda grana desse esquema que eu tenho guardada comigo?
        -Que esquema? Quanto?
        Spif tirou uma caneta do bolso, escreveu em valor num papel e entregou-o a Mike. Este ficou adimirado ao ler o montante de que o comparsa dispunha:
        -De onde você tirou isso?
        -Você sabe muito bem de onde, foi por isso que me trouxe aqui.
        -He, he, é isso aí camarada. E onde está a grana?
        -No carro, é toda sua.
        -Em troca...
        -... dessa pistola agora.
        -Feito!
        Spif entregou as chaves do carro e pegou a pistola. Destravou-a, sacou o pente para ver se estava carregado e depois recolocou-o no lugar. Mike estava saindo pela porta assobiando quando Spif chamou-o:
        -Ei Mike, você esqueceu uma coisinha....
Disparou duas vezes quando ele se virou, o segundo tiro exatamente no meio do peito, deixando-o jogado no chão vertendo sangue pelos buracos do tamanho de polegares de uma bala .40.

Um comentário:

  1. belo conto,gostaria que você visita-se o meu blog para que você o critica se ele para mim.
    http://apared.blogspot.com

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